quarta-feira, 12 de março de 2008

O Viver e suas razões

Estava juntando alguns pensamentos e vivências e cheguei a uma conclusão que me convenceu (em partes) ao mesmo tempo que me perturbar.
Por partes:
O ser humano é um eterno insatisfeito, como já deve ter ficado bem claro para qualquer um que pare um pouquinho para pensar a respeito.
Nunca paramos. Terminamos algo e já arranjamos algo para fazer. "Estamos sempre num estado de não finaliação". Como eu disse em outro texto, fazer coisas é a melhor forma de não pensar nos problemas.
Para completar temos as relatadas sensações de paz que as pessoas sentem quando vivenciam uma experiência de quase morte. Eu mesmo passei por uma dessas ficando um tempo um tanto excessivo sem respirar. De início não incomodava, depois foi uma agonia quase insuportável, por fim veio uma sensação agradável de paz e tranqüilidade.
Juntando estas três informações me faz pensar que talvez o que chamamos de "vida" seja nossa maneira de cumprir algum tipo de "pena". Se a quase-morte traz paz, enquanto a vida nunca nos satisfaz. Algo pode estar muito errado aí.
Não estou dizendo que morrer seja alguma solução. Certamente que não. Se a resposta fosse tão fácil assim não seríamos sete bilhões. Também não acredito que, se existir algum ordenamento no universo, que ele seja tão falho quanto nossos sistemas de punição (isso se realmente for punição, para o budismo, se não me engano, é uma forma de se evoluir).
Também não sou um pessimista que acha que viver é ruim. Muito pelo contrário! Adoro viver e eu gostaria muito que os dias fossem mais longos, que a vida fosse maior e que a velhisse demorasse mais. Existe tanta coisa que eu gostaria de aprender nessa vida, sinceramente não acredito que exista tempo.
Quando pensei nisso logo surgiu a hipótese de que nossa forma de vida que nos traga essa falta de sentimento de estar completo. Mas não são apenas os problemas das épocas que atrapalham. Estamos acostumados com tantas coisas. Será que não viveríamos melhor se nunca tivéssemos de aguentar a gravidade do nosso planeta? A fome depois de algumas horas sem comer? A necessidade de respirar (não respirávamos no útero e há quem diga que nascer e respirar são nossos primeiros traumas)?
Então o problema está além de nossas mãos.
Existem muitas coisas pelo qual vale a pena viver. Muitas coisas MESMO. Mas vamos subtrair as coisas que nós criamos, pois estas poderiam ser vistas como uma forma de melhorar a própria situação apenas. Podemos diminuir o peso de se relacionar uns com os outros, que pode ser visto tanto como uma outra forma de amenizar a situação quanto visto pelo fato de que praticamente todos relacionamentos não dão certos (se dessem todo mundo se casaria lá pelos seus 15 anos). Sobra as coisas da natureza, quantos de nós realmente prezamos estas coisas, as damos o devido valor e paramos para aproveitá-las? Todos gostamos de ver o sol se por mas com que freqüência costumamos observá-lo? Gostamos da sombra de uma árvore - pof! desmatamento -, de deitar na grama - pof! construido o estacionamento de um shopping -, de tomar um banho de mar - pof! "você quis dizer 'banho de dejetos?' -, etc.
Talvez estejamos no caminho errado. Mas aí não teríamops progresso, nem as coisas que nos facilitam a vida, nem curas de doenças, nem nossos "brinquedos", nem nada.
Não são paleativos para melhorar nossa situação também?





Postado por Ricardo Ceratti.

Um comentário:

Helen disse...

Muito bom o texto! : )
Concordo com tudo o que tu disse, apesar do assunto ser um tanto complicado de se discutir.
Parabéns por escrever tão bem como tu escreve!
Beijobeijobeijobeijo