terça-feira, 18 de junho de 2013

Dor da cidade

Passando pela cidade hoje senti uma dor. Aquela dor constante, um amargo no fundo da garganta, um "cabisbaixismo".
Vendo as evidências da minha cidade ter sido violentada, sinto a mim, também, violentado.
Acho que ainda pior que ver o que segue destruído e pichado, é ver o que já foi reposto, consertado, limpo.
A falta de evidências de uma ferida tão recente, que sinto ainda aberta, dói ainda mais que o ferimento exposto, ou que o gás fizera 24 horas atrás...




Postado por Ricardo Ceratti.

Sobre Anarquismo

Houve um semestre que conversei muito com um cara muito esclarecido. Em meio a troca de ideias ela me falou que eu tinha muitos pensamentos de anarquista. De início fiquei ressabiado, pois eu tinha um grande preconceito com a palavra. Com o passar do tempo busquei algumas leituras a respeito e passar a achar a ideia interessante pelo pouco que li.
Mas, após ver as atitudes e as pichações que acompanhavam o símbolo da anarquia, passei a sentir a necessidade de uma nova palavra para falar do que eu acredito.
Não tenho, nem quero ter, nada a ver com a mentalidade que foi expressa pelos mesmos na noite de ontem.




Postado por Ricardo Ceratti.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sobre o protesto de 17/06/2013

Antes de mais nada quero deixar bem claro algumas coisas.
Eu só posso falar do que EU presenciei, e só posso acreditar naquilo que EU vi. Cada um tem seu ponto de vista, e o ponto de vista de TODO MUNDO é incompleto.
Vi de tudo hoje. Coisas admiráveis e coisas vergonhosas dos dois lados.
Quero explicar que minha “porta-voz”, a Renata, repassou por mim (ainda nem li nada) o que eu narrava para ela. Foi num momento em que vi muita baderna acontecendo, e foi exatamente isso que contei para ela. Depois, após tantas fotos, vídeos e mensagens, a memória do meu celular simplesmente foi pro saco. Tive que ficar meio de longe para me concentrar um pouco em deletar músicas e sms. Após isso ela já tinha ido dormir. Após isso também vi muita coisa louvável do povo, e que acabou que não tive quem falasse por mim até eu chegar em casa. Acredito que possa ter parecido que eu estava com uma visão peleguista. Não é o caso. Repito, só conto o que EU presenciei, seja a favor da polícia, ou a favor do povo.
Então lá vamos nós.
O protesto estava LINDO. Só consegui chegar uma hora depois, e me juntei ao movimento na Salgado Filho com a Borges. Tinha uma dúzia de PM apé e uma dúzia a cavalo marcando a linha de fundos da passeata. Todos estavam pacíficos, cantando músicas de movimento, estendendo seus cartazes, tirando fotos, etc. Muita gente dava apoio das janelas de suas casas, jogando papel picado, estendendo panos brancos, batendo palmas. A coisa estava no caminho certo e tínhamos a aprovação unânime da população.
Tudo foi tranqüilo até chegarmos na Ipiranga, quando finalmente alcancei o que devia ser mais ou menos os 20 ou 30% da linha de frente do movimento. Fiquei em dúvida para onde iríamos, pois não me informei o suficiente e, até onde eu sei, neste tipo de manifestação é combinada uma rota a ser seguida com a polícia. Tinha muita gente ainda vindo no sentido centro-bairro pela João Pessoa,  a maioria parou no meio da rua, na esquina da Azenha com Ipiranga, e um pequeno bolo rumou na direção oeste, para o lado da RBS. Neste momento houve pânico, quando tropas a cavalo atravessaram a Ipiranga, perto de onde estávamos. Acredito que todos tememos que viria truculência, mas não foi o caso. Me aproximei, apesar do medo, e vi que o vidro (que é a parede) da Estação H (revenda da Honda) tinha sido estraçalhado, e a polícia foi meramente se posicionar para defender a loja. Se por falta de informação, por ódio, ou meramente por querer baderna, muita gente começou a vaiar, alguns atiraram pedra na polícia, uns foram tentar conversar com os PM, e algumas pessoas gritavam que a polícia só servia para defender as lojas. Neste ponto me posicionei, falando que a loja não tinha nada a ver com o protesto, e todos gostaríamos de uma atitude similar da polícia se fossem com nossas casas ou pontos de comércio.
Vi ao longe uma movimentação da polícia aproximadamente da RBS, e um tempo depois vi, quase simultaneamente, bombas de gás sendo lançadas contra as pessoas que estavam do lado da rua no sentido Oeste-Leste (do lado da rua da RBS e da estação H), assim como vi gente, deste mesmo lado, destruindo os “guard-rail” da ciclovia. Do outro lado da rua o protesto seguia pacífico de ambos lados. Inclusive teve gente, como eu, que gritavam para não destruírem as coisas e não vandalizar. Um tempo depois me afastei e vi ao longe que a polícia estava avançando na direção de empurrar as pessoas devolta para a Azenha, e mais um tempo depois começaram a voar bombas de gás no lado pacífico da rua. Neste ponto confesso que não entendi. Os mais enraivecidos dizem que a polícia foi ignorante quando se aproximaram da RBS, e aí que tudo descambou. Não sei, não vi. Quando rolaram bombas do lado pacífico, eu, muito animal, fui pra perto, ver o que estava acontecendo. Com os olhos ardendo e tendo que chutar bombas para longe, vi que tinha gente subindo a Lima e Silva e derrubando, quebrando e queimando lixeiras. Voltei com receio pois começaram a jogar muitas bombas ali, e, sem conseguir enxergar direito, fiquei com medo que o avanço dos PM, incluindo cavalaria, estaria mais rápido ou próximo que eu daria conta de recuar.
A polícia eventualmente conteve todos de volta para o cruzamento com a Azenha, enquanto boa parte da manifestação estava na João Pessoa, MUITA gente ainda estava no cruzamento com a Gerônimo D’Ornelas, e fiquei sabendo que estava rolando algo na própria Lima e Silva (e depois soube que tinha choque na Loureiro também). Com medo da polícia, recuei até metade da quadra na direção da João Pessoa, ainda pela Ipiranga. Voltei para ver o que estava acontecendo, e novamente começou a chover bombas. Comecei a recuar e uma bomba caiu do meu lado, me deixando meio desnorteado e sem conseguir enxergar quase nada. Desci as pressas quase rolando para a parte baixa do dilúvio. Um pessoal que estava no cruzamento da Azenha gritava para mim tentando me mostrar o caminho. Pedi que esperassem eu me recuperar, e depois fui para junto deles. Fui com muito medo, pois tinha muitos BM (que depois entendi que a função era para conter curiosos apenas), tinham viaturas (que vi prendendo algumas pessoas, jogando elas no porta-malas da caminhonete), e tinha cavalaria. Achei que iam me trucidar por estar ali. Muito pelo contrário. Os policiais de conter curiosos só diziam para não chegarmos mais perto (nos mantendo a uns 10m da cavalaria), sendo bem educados e não agredindo ninguém.
Eu queria saber o que estava acontecendo nos outros lugares, mas também queria saber o que estava acontecendo ali. Na direção da Gerônimo eu pude ver que levantavam uma fogueira (não conseguia ver se era no chão ou em algum ônibus...depois vi que era em lixeiras), e sacudiam um ônibus parado. Talvez por curiosidade, talvez por medo mesmo, ou talvez por não querer me juntar ao pessoal que estava depredando um ônibus (o que eu não concordo), fiquei por ali, junto dos policiais, filmando prisões, avançando com eles para poder filmar as inúmeras lixeiras tombadas e queimadas (que num certo ponto eu desisti de fotografar). Quem passou trabalho neste dia foram os bombeiros. Não os vi parando um instante.
Chegando perto da Venâncio Aires, vi um ônibus COMPLETAMENTE destruído, coisa que também não concordo para um protesto pacífico. Também vi a Secretaria de Segurança completamente aniquilada, com porta inteiramente quebrada (era de vidro), bancos amontoados, pedaços para todos os lados. Como eu queria ir no posto de gasolina comprar alguma coisa, fiquei perto da Venâncio por um tempo. Vendo que ia demorar, voltei e fui pela Lima. Mas uma vez um rastro de lixeiras tombadas e pegando fogo. Vi algumas pessoas pedindo “sem violência” para os próprios manifestantes, pessoas dizendo para não destruírem com tudo, tentando argumentar com os mais caóticos (e quase apanhando por isso), vi gente sendo debochada por levantar e apagar fogo de lixeiras, enfim... vi muita gente de bem, querendo manter a ordem do protesto. Vi claramente que não era a maioria que queria instaurar o caos. Infelizmente a maioria perdeu.
Chegando na Loreiro, tarde, acho eu, tinha uma multidão ocupando a rua, descansando, comprando uma cervejinha, um cigarro, fechando seus baseados. O único incidente tinha sido um suposto atropelamento por parte de uma taxista. Um grupo de umas 30 pessoas estava em volta de um táxi do aeroporto, enquanto a motorista, ao que me pareceu, tentava achar uma solução, ao mesmo tempo que parte queria acabar com ela e seu idoso passageiro, e, do outro lado, um grupo tentava dizendo que ninguém tinha se machucada, e deveríamos deixar ela ir embora. Neste meio tempo xingaram a taxista, esvaziaram os pneus do carro, sacudiram o carro, brigaram (só bate-boca, nada físico) com os que defendiam a extradição da motorista. Só sei que eu não queria ser nem aquela taxista, nem aquele senhor idoso. Sei também que os que se diziam vítimas estavam sem nenhum ferimento aparente. Inclusive os questionei sobre isso, e recebi um “de que lado tu está?”, quando eu retruquei que não sabia que existiam lados, e achava que o objetivo do protesto era algo muito mais interessante que acabar com uma taxista (uma vez que a turma do “deixa-disso” já tinha sugerido “pega a placa e deixa ela ir”). Não sei o que estava acontecendo pro lado da João Pessoa, só sei que alguns começaram a tentar inflar a idéia de irmos para a Câmara. Nisso, da direção da João Pessoa, a cavalaria começa a vir com velocidade e tocando bomba. Esta ação, sinceramente, me pareceu completamente desnecessária. Não sei se queriam meramente abrir caminho na marra (afinal subindo pro centro vi muita merda rolando), ou se estavam só sendo ignorantes mesmo. Tivemos que sair correndo, uns subindo a José do Patrocínio, outros indo na direção do Açorianos. Nessa hora tive que correr de verdade, pois achei que seria atropelado pela polícia montada.
Após minha fuga, notei um movimento na direção do centro, e subi a Borges. Lixeiras e mais lixeiras em barricadas incandescentes pela rua, um carro com os vidros completamente quebrados, além das inúmeras pichações e focos de fogo espalhados pela rua. Neste momento vi que eu não era o único a discordar dos rumos do movimento. A população, que antes nos saudava, agora nos vaiavam, jogavam garrafas com água na tentativa de apagar os fogos, e voavam algumas garrafas. Este seria um bom indício que a coisa já tinha ido longe de mais, na minha opinião. Não bastou.
Quando me aproximei do cruzamento com a Riachuelo, vi a polícia atravessando na parte elevada do viaduto. Cavalos e mais cavalos num movimento que me pareceu de cercar os manifestantes. Na Riachuelo vi o povo recuando (estavam na direção da praça Matriz). Mais uma vez, o animal aqui avançou quando todos recuavam. No caminho vi bancos, orelhões, lojas depredados.  A população xingava os manifestantes de suas janelas. Rolavam bate-bocas que se estenderiam. Muita gente tentava apagar os fogos e conter os ânimos, mas enquanto ficavam atrás tentando conter danos, o povo da baderna avançava destruindo mais e mais. No final da rua a cavalaria chegou, e avançou. Tive que sair correndo e dizer para um cara que estava começando fogo, assim como para uma moça que estava apagando um fogo (ironias da vida) “corre que a cavalaria ta vindo”. Corri em pânico, atravessando a Borges e dando a volta. Agora eu estava naquela parte elevada (que nunca sei o nome) por onde eu tinha avistado antes a cavalaria passar. As pessoas estavam dispersas e os números estavam muito reduzidos. Neste momento me pareceu bastante que ali só tinha o pessoal da baderna. Parei naquele lugar lindo, no alto da Borges, onde podia se enxergar a mesma ao longe, e vi uma cena muito triste de um lado, onde a rua estava vazia, com lixeiras pegando fogo e carros soavam alarme, e de outro, uma cena questionável, onde estavam gritando de cima xingamentos a polícia que passava por baixo, clamando que não eram vagabundos, que trabalhavam (confesso ter tido a impressão de que alguns diziam que a polícia ali só estava fazendo seu trabalho... não sei se entendi errado). Neste momento conversei com algumas pessoas, com medo do que eu ia dizer, já que em alguns momentos parecia que quem não era a favor da depredação, era inimigo. Por sorte encontrei uns rapazes mais ou menos da minha idade que pensavam o mesmo que eu. Que o pessoal tinha exagerado, que precisávamos nos definir, se era protesto pacífico, ou quebra-pau, que meio a meio não dá certo, e que não acham que esta seja a hora de partir para a ignorância.
Perambulei mais um pouco pelo centro, e tudo que vi foi pessoas fora do movimento na rua com olhares decepcionados, pessoas de suas casas batendo boca com manifestantes, e manifestantes que destruíam tudo que se encontrava em seu caminho.
Decepcionado com o que eu estava vendo, voltei para casa.
O que eu concluí, ao menos até agora disso tudo:
Do ponto que eu vi, ambos lados estavam se excedendo, mas o lado agressivo do movimento foi mais sem razão. Se eu ver filmagens de quem estava na RBS (o considerado começo de tudo, quando supostamente a polícia partiu para a ignorância com medo que encostassem na RBS) de que realmente a polícia começou, ok, vou em entender a indignação das pessoas. Porém, até o presente momento, não penso que isto justifique sair destruindo tudo... não só patrimônio da cidade, mas também de empresas e até de particulares (que culpa tem quem deu o azar de deixar seu carro estacionado na rua?). Claro que é fácil pensar assim não tendo sido tão cercado de bombas, nem tendo apanhado (até o momento não sei de balas de borracha nem de gente que apanhou, apesar de que bombas não faltaram).
Sei também que o movimento é legítimo e a sua maioria não estava participando do vandalismo. Chuto (é puramente chute) que uns 15% estavam por quebrar tudo, uns 15% estavam por colocar razão na cabeça das pessoas e amenizar danos, e o resto estava perdido, só querendo seguir o que tinha sido planejado (uma caminhada para mostrar indignação, e nada mais).
Se existem policiais infiltrados que começaram a guerra, também não sei. Vi sim o vídeo do policial que quebra o vidro de sua própria viatura. Mas não posso falar nada além de mera especulação vazia se o estopim foi dos manifestantes ou de PMS disfarçados de manifestantes (apesar de eu ter achado estranho um carro civil passando com um fardado dentro).
Confesso que, assim como a violência policial em São Paulo motivou muita gente a participar dos movimentos, a imensa violência de PARTE da população hoje ME fez repensar se quero fazer parte deste movimento.
O meu ponto de vista é, e sempre será de que não devemos perder a razão e o apoio do povo. Devemos deixar o governo ou a polícia (neste caso representando o governo) perder a razão, e mostrar para o mundo como eles estão fora dos limites. E NÃO nós perdermos a razão e o apoio, e sairmos dos limites.
Acredito SIM que existem motivos infinitos para se revoltar e se manifestar. Acredito que a manifestação é um DIREITO e que temos o DEVER de colocar ordem neste nosso país com sua corrupção, sua segurança, educação e saúde de LIXO, com impostos e mais impostos, com transporte sem qualidade, com grandes empresas pintando e bordando desde que dêem banho de dinheiro nos nossos governantes, com políticos se dando salários, verbas disso e daquilo, e décimos-terceiro-quarto-quinto salários a perder de vista (a função é nos representar e melhorar o país ou enriquecer?), com estatutos do nascituro tirando liberdades femininas, com leis para proibir manifestações, ou terminar investigações de corrupção em pizza, com mídia pelega, com castração de direitos de liberdade de expressão e de ir e vir, enfim, com esse cerceamento completo dos direitos dos cidadãos e encaminhamento para uma ditadura. Só não acho coerente quebrar tudo, e, quando a polícia vem para cima, berrar que isto é um ato ditatorial. Gente, por favor, tanta coisa errada, pra quê brigar pelas causas erradas e ser propagador de MAIS coisas erradas?
Acredito, também, que manifestação violenta É justificada. Só não acho que seja o momento. Por mais cansados que estejamos com toda essa palhaçada, e por mais que existam manifestações há anos, só agora que começou a haver manifestações expressivas e organizadas. Dava para tentar mais um punhado ou dois de manifestações pacíficas, aproveitando os olhares internacionais como forma de constranger nossos governantes, ANTES de partir para uma guerra civil, não acham?

Esta é a MINHA opinião, com base no que EU acredito e no que EU pude ver. Sintam-se livres para discordar, afinal de contas, todo mundo tem direito a ter sua opinião.




Postado por Ricardo Ceratti.