sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Viver na Ilha ou no Continente?

Um terreno no qual por vários anos consecutivos a mesma planta é cultivada, vira terra infértil.
Resumindo o fruto de uma conversa que tive com o Ivan (que alias essa comparação é merito dele).
Será que o mesmo não ocorre com pessoas?
Estava pensando. Se passar anos com a mesma pessoa, acabará se moldando a esta pessoa. Sendo um pouco (cada vez mais e mais) o outro. Sendo cada vez menos a si mesmo.
Se parar pra pensar, quem somos? Nada muito além do resultado dos que nos rodeiam. Somos influência(tanto no sentido direto quanto no indireto[sendo o oposto]) de pai e mãe, de irmãos, tios, amigos, vizinhos, pessoas que namoramos, etc.
Isso é um fato normal, porém, quando a pessoa se dedica com quase (ou total) exclusividade em uma área, um grupo, uma pessoa, as influências acabam por tomar conta de mais do que o que lhe seria coerentemente distribuido. No gráfico da pizza a fatia acaba virando duas, três, meia pizza, pizza e meia...
Isso geralmente ocorre especialmente em relacionamentos amorosos, o que, por sua vez é o foco de minha análise: o namoro.
Uma pessoa passa anos namorando a mesma pessoa e, por mais que tente manter a pessoa com sua fatia, ela, na imensa maioria dos casos, acaba tomando conta de muito mais da pizza do que essa uma mísera fatia.
E é no decorrer e manutenção desse movimento, dessa tomada (quase militar) de espaço na vida alheia, que acaba por exercer mais influência do que qualquer pessoa deveria influenciar na vida de uma outra pessoa.
As pessoas acabam misturando os moldes, o que é uma acaba sendo a outra e vice e versa. As manias, deficiências e até as qualidades (sim, o efeito não é somente negativo) acabam sendo mútuas. A separação de egos, a individualidade se perder tanto que as pessoas acreditam que tal característica é parte de si. Sempre foi. Ou não? Então as coisas começam a serem aceitas com mais facilidade. As divergências diminuem. Ô beleza! A terra já está até arada para o plantio da cana-de-açúcar! Porque não?
Realmente, esse acontecimento, assim como tudo que nos acontece, tem seus por quês. Já pensou estar há 10 anos casado com a mesma pessoa e ainda se irritar om algum detalhe bobo? Ainda reparar em todas coisas não tão agradáveis daquela pessoa? Talvez o Ser Humano tenha sido criado para ser monogâmico...
E as outras pessoas? O que acham disso? Geralmente não vem a ser complicador. Com o cônjuge ocupando tanto da pizza, sobra pouco para dividir entre tantas outras pessoas. E, justamente devido ao pouco tempo que isso passa "batido".
Mas... E se a pessoa tiver que dividir seu tempo de forma mais competitiva com outra pessoa? pode até não atrapalhar no início, mas logo se demonstrará um problema. Os costumes e regras da "ilha" não dão os mesmos do "continente". Uma coisa tão normal, uma regra (de qualquer instância) tão internalizada ou um comportamento tão aceito e natural pessoa seu "outro eu", pode ser extramente fora da realidade para o resto da sociedade. Aí entra o conflito. A pessoa já se acostumou demais com aquela forma de viver, é difícil demais de se adaptar. É difícil demais ser aturada. É cansativo e o esforço geralmente não compensa.
Será que isso quer dizer que o Ser Humano nasceu para ser poligâmico? Solitário? Nômade "relacional"?
Acredito que o problema esteja na visão AINDA ultrapassada de relacionamento que a imensa maioria das pessoas possui. É como eu aprendi nas minhas aulas de Psicoloia do Trabalho. Pode ser lucrativo para a empresa enviar um trabalhador para o estrangeiro para que ele volte com novas idéias, mais criativo, etc. novos horizontes são importantes. Não quero dizer q não devam existir relacionamentos sérios ou fixos, e sim, acredito que as pessoas, por mais que se amem ou possuam algum sentimento do gênero, devam ser capazes de conseguir manter um certo distanciamento entre elas, uma certa capacidade de "olhar para fora", de passar um mês de féria longe, sabendo que quando voltar o relacionamento terá se renovado e, com ele, a saúde social da pessoa terá melhorado infinitamente (não afastando as outras pessoas de si). E, vejam só! Se a plantação tiver algum rodízio, o terreno não perderá seus nutrientes!
Obviamente que para este tipo de movimento acontecer muitas premissas devem ser estabelecidas e cumpridas. Confiança, respeito, capacidade de saber que a pessoa ainda existirá (para você), quando o mês acabar, entre outras. Obviamente não cabe a mim (muito menos neste momento) dizer (ditar?) como se alcança tais ideais. Isso vai de cada um. E sei bem que em alguns (ou muitos) casos isso jamais se concretiza.
Qual a solução então? Eu acredito, que a pessoa manter sua individualidade, intelectualidade, jeito, é o melhor caminho. Neste ponto me vejo obrigado a me posicionar sobre esse "amoldamento". Me posiciono, então, contra. Ao meu ver as pessoas não devem se acostumar umas as outras. Acostumar-se ao outro é resignar-se. É contentar-se com um salário mínimo. É não aspirar uma promoção. É aceitar a corrupção porque "sempre foi assim". É se acomodar na vida, é parar de lutar, é desistir de evoluir. É aceitar virar as costas para o resto do mundo e aceitar a criação de regras próprias (muitas vezes absurdas). É se fechar culturalmente. É viver no seu mundinho. Mundo que, na minha opinião, de dentro parece muito lindo, quando na verdade é sem cor.
Termina o namoro. Que acontece. Tudo será estranho. Vai achar alguém que te "aguente", vai! Vai ver se aquelas regras ainda são funcionais! Um sentimento de deslocamento surgirá e, com este deslocamento a pessoa passará a enxergar cor no mundo uma vez mais. Verá que existem outras formas de ser feliz. Verá como eram absurdas aquelas regras. Verá que se sujeitou a coisas demais. E, talvez, com um bocado de azar, poderá, no futuro, vir a se arrepender de ter plantado a mesma cana por tanto tempo naquele solo que agora não possui nutrientes, sais minerais, solo que deve ser adubado, recondicionado, solo que levará muito tempo até voltar a ser produtivo novamente.

Postado por Ricardo Ceratti.

domingo, 23 de setembro de 2007

É no não que se descobre de verdade

Olhos cansados da noite clara. Eu lembro, por alguns instantes, os meus momentos diurnos onde eu achava que via algo. Quando percebo que a pessoa que há poucas semanas era alguém tão, mas, tão próxima e eu não mais teria alguma importância, percebi que a noite era mais clara do que qualquer tarde ensolarada.

Surgiam pessoas que eu nunca supunha que pudessem sorrir. Algumas davam um ar de psicose, e eu mal sabia que elas estavam sabendo viver e que não havia nada que pudesse dar motivos pra se preocuparem. Não havia ninguém te jogando pra baixo tentando tomar o controle sobre mim. Dentre estas pessoas, não apareceu diante de mim uma pessoa sequer que não me mostrasse o lado bom das coisas vividas. Todas, digo: todas olharam para mim -mesmo que pela primeira vez- mostrando que o que foi vivido foi pra aprender e sentir. Logo após o olhar sempre veio “tu é uma pessoa boa e ninguém pode te deixar assim. Tu és maior do que qualquer maldade”. Obviamente não foi exatamente com essas palavras, mas sempre veio algo em torno disso.

Isso tudo remete a idéia de que, às vezes, as pessoas que mais gostamos precisam te deixar pra baixo pra te ter por perto, porque é nelas que sempre procura algo bom e fica esperando, mesmo que tudo nela aponte para o lado oposto. Mesmo aparentando que tudo está contra, é nelas que sempre pensamos. Para manter o controle de alguém que gosta da gente façamos o quê? A jogamos pra baixo, resgatamos o passado bom vivido e damos um breve adeus. Obviamente esta pessoa –se não for uma psicopata ou alguém parecido com a pessoa que está lhe aplicando a técnica- vai voltar a tentar de todas as maneiras se levantar e mostrar que o futuro pode ser melhor.

Os lugares acabam se ampliando a cada dia que passa após a pessoa não estar sufocada ou sendo jogada pra baixo. Surgem pessoas novas –inclusive algumas que passavam ao seu lado, e você não percebia, por estar preocupado com aquela pessoa que te jogaria pra baixo mais tarde-, filmes de comédia romântica misturados com humor negro acabam fazendo mais sentido, nas festas acaba parecendo que existem mais pessoas –porque você, obviamente, estava mais preocupado com aquela pessoa que daqui a 1 hora te jogaria pra baixo-.

Então o milagre da vida acontece. Você encontra alguém decente e que não fica alimentando de coisas ruins a relação, olha pra frente, faz planos e prefere te encher de beijos ao invés de ficar dizendo aquelas frases tão legais pra vocês cujas você sabe quais são.

O poder do olhar é o maior de todos.

Fim.


Postado por Ivan Pielke