sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ilusões.

O mesmo artifício que permite que levantes todos dias, ou não odiar (tanto) tua existência, é aquele que te adormece as insatisfações, que te castra a revolta e te tira a vontade de mudar, de lutar por uma existência melhor, mais justa, mais válida de ser vivida.
Aquilo que julgas te dar forças é justamente o grilhão de ilusões que te joga num ciclo vicioso de resignação e conformismo.

Não há melhor motivador para a mudança que o sofrimento cru.




Postado por Ricardo Ceratti.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Cerveja e festa, o segredo do brasileiro feliz.

Ainda sobre propaganda.
Esses dias eu estava trocando canais e me deparei com uma propaganda da havaianas.
A cena é mais ou menos assim:
Num bar um ator está numa roda de música com outras pessoas. Pagode, samba, não sei ao certo.
Eis que uma moça chega e os dá um sermão. Diz coisas como "como pode, em plena crise mundial e vocês aí, cantando!".
Então alguém fala algo concordando com ela, mas o que é dito lembra uma música e todos esquecem o que estava sendo falado e se emocionam cantando novamente.
Bem, essa propaganda passa muito bem a mentalidade brasileira de "adaptação". De, ao invés de lidar com a realidade, de buscar soluções, de lutar por algo melhor, preferem ficar bebendo cerveja e cantando.
Claro, por um lado realmente seria estúpido as pessoas abandonarem seus lazeres para se preocuparem desnecessariamente com algo que esteja fora de seu alcance. Mas tamanha a despreocupação.
Acredito que a propaganda faça muito sucesso no exterior e melhore bastante o turismo brasileiro, uma vez que é a imagem que os gringos possuem de nosso povo: um povo que está sempre feliz e festejando não importa a merda em que estejam.
Somando a isso, lembrei-me que vi "Olga" neste final de semana. Durante o filme, ocorrendo perseguições política e com todos motivos para preocupação (como a iminência da segunda guerra mundial), a personagem olha pela janela e vê o povo fantasiado festejando o carnaval, como se nada estivesse acontecendo.
Nisso minha namorada comenta "bem Brasil mesmo" e eu retruco que "a melhor época para dar um golpe ou algo assim no Brasil é em fevereiro que o povão nem liga, afinal, tem carnaval".
Me indago o porquê do país não ir pra frente...




Postado por Ricardo Ceratti.

Banalizando.

Acho que parei no tempo.
Ou os tempos que mudaram rápido demais, não sei.
Fiquei um bom tempo alienado, até gosto.
Esses dias resolvi fazer algo raríssimo na minha vida: abrir o jornal.
Para minha surpresa, o que encontro?
Seios. Nus.
Ok, é bonito e tudo mais. Mas... da última vez que abri o jornal não ficavam aparecendo por aí para qualquer criança de qualquer idade ver.
Aliás, nem nas revistas eroticazinhas (como as VIP da vida) eles apareciam assim, tão direta e descaradamente.
Mas hoje em dia pelo jeito é a coisa mais normal do mundo.
Comentei isso com minha namorada e concluí que, nesse ritmo logo não haverá distinções entre o conteúdo visual da revista citada antes para o das revistas especializadas (como playboy, por exemplo).
E o acesso então, cada vez mais universal.
Não sei, acho que devo ser meio antiquado.
Acho bonito que algumas coisas sejam escondidas, que não possam ser vistas cotidianamente. Ficam banais, sabe?
Não me parece um bom caminho. Duvido que existiriam as belas pinturas e esculturas do corpo humano se sempre tivessemos essa banalização.
E também não me parece muito bom dar esse tipo de acesso a crianças. Crianças que cada dia são menos crianças. Cada dia brincam menos e começam de "ficar" e "transar" mais cedo.
Me parece apenas mais um passo para tornar o mundo um lugar cada vez mais adepto da putaria que a mídia tanto gosta de nos propiciar.
Nisso eu estava vendo umas propagandas antigas. Me deparei com a propaganda do "tio da sukita", lembra?
Lembro que na época aquela propaganda chamava atenção pelos seus teores.
Olhando hoje, 10 anos depois, parece propaganda para infantes.
Como tanto mudou em 10 anos?
Será que isso tudo é culpa de eu ainda ter dificuldade de acreditar que já não estamos mais na década de 90?



Postado por Ricardo Ceratti.

Fantasias.

Como podemos nos apegar tanto às fantasias?
Já que viver num mundo de fantasia não traz bem ALGUM pra NINGUÉM.
É tão melhor encarar a realidade por pior que esta seja, já que só a encarando que podemos trabalhá-la e torná-la algo melhor.
Só assim podemos fazer nossas vidas melhorarem, resolver o que não está bom, consertar o que está quebrado. Só assim a vida pode se tornar um lugar melhor que a fantasia, de verdade.
Por tempo demais vivi esta vidinha de sonhos e fantasias.
Ah, mas eu me arrependo de cada noite em claro!
De cada dia de "psicose"!
De cada semana sofrendo por me apegar às mentiras que eu contava pra mim mesmo!
Cada mês desperdiçado, sem crescer!
Cada ano que a depressão ficava cada vez pior, quase insuportável!
Até que, um belo dia, resolvi abrir mão deste mundo de fantasias que eu tanto achava que me fazia bem.
Até que eu resolvi encarar a realidade e tornar minha vida algo realmente melhor, ao invés de continuar fingindo que tudo estava bem.
Obvio que no início as coisas foram difíceis!
No inicio foi realmente sofrido suportar o peso da realidade, conviver com ele, aceitá-lo.
Ah, mas as coisas melhoraram tão rápido!
E melhoraram tanto!
E, anets que eu percebesse, a realidade havia superado a fantasia.
E havia superado em tão menos tempo do que aquele tempo em que eu havia me apegado à fantasia!
Tanto tempo perdido, tanto tempo temendo que não conseguiria enfrentar a realidade... e pra quê? Para um conflito que se mostrou tão mais fácil do que eu imaginava que seria? Para uma construção tão bela e recompensadora? Para conseguir uma realidade tão melhor que a fantasia e passar alguns anos não me perdoando pelo tempo perdido, querendo correr atrás do prejuízo (o que nunca dá certo...)?
Sinceramente, se eu pudesse voltar no tempo não me permitiria perder um segundo sequer com aquelas fantasias.
Voltar no tempo não é possível e desejar isso seria mais um apego à fantasia.
Porém, espero que este texto possa poupar que outras pessoas acabem desejando poder voltar no tempo...




Postado por Ricardo Ceratti.

Classe Média.

Como este post na verdade foi um comentário que fiz sobre um texto de um amigo, vou aproveitar o gancho para fazer uma propaganda do blog dele.
Para ler o texto dele e meu comentário basta ir no link abaixo:
http://comediaseproverbios.blogspot.com/2009/04/defendendo-minhas-causas.html



Ricardo Ceratti.

sábado, 18 de abril de 2009

Martha Medeiros

Você é adulto mesmo? Então pare de reclamar, pare de buscar o impossível, pare de exigir perfeição de si mesmo, pare de querer encontrar lógica para tudo, pare de contabilizar prós e contras, para de julgar os outros, pare de tentar manter sua vida sob rígido controle. Simplesmente divirta-se.
Não que seja fácil. Enquanto que um corpo sarado se obtém com exercício, musculação, dieta e discernimento quanto aos hábitos cotidianos, a leveza de espírito requer justamente o contrário: a liberação das correntes. A aventura do não-domínio. Permitir-se o erro. Não se sacrificar em demasia, já que estamos todos caminhando rumo a um mesmo destino, que não é nada espetacular. É preciso perceber a hora de tirar o pé do acelerador, afinal, quem quer cruzar a linha de chegada? Mil vezes curtir a travessia.
Dia desses recebi o e-mail de uma mulher revoltada, baixo-astral, carente de frescor, e fiquei imaginando como deve ser difícil viver sem abstração e sem ver graça na vida, enclausurada na dor. Ela não estava me xingando pessoalmente, e sim manifestando sua contrariedade em relação ao universo, apenas isso: odiava o mundo. Não a conheço, pode sofrer de depressão, ter um problema sério, sei lá. Mas há pessoas queapresentam quadro depressivo e ainda assim não perdem o humor nem que queiram: tiveram a sorte de nascer com esse refinado instinto de sobrevivência.
Dores, cada um tem as suas. Mas o que nos faz cultivá-las por décadas? Creio que nos apegamos com desespero a elas por não ter o que colocar no lugar, caso a dor se vá. E então se fica ruminando, alimentando a própria "má sorte", num processo de vitimização que chega ao nível do absurdo. Por que fazemos isso conosco?
Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas peras é inevitável, mas que não precisamos nos agarrar à dor para justificar nossa existência.


Martha Medeiros
12/04/2009


Ao meu ver só faltou mencionar que as pessoas não só cultivam a dor, mas querem que ela dê frutos pro lado do muro do vizinho.

Ricardo Ceratti.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Pombas...

Cada coisa que me faz pensar...
Esta tarde, enquanto eu lanchava eu observava as pombas.
Pensei "que bicho inútil! Vive de comer o dia inteiro e dormir!". Logo comecei a tentar catalogar o que diabos uma pomba faz.
Lembrei que elas fazem uns barulhos estranhos, ficam em cima dos prédios lagarteando, certamente se reproduzem e... vivem constantemente atentas aos seus predadores.
Nisso me dei conta do meu pensamento automático. Por que "bicho inútil"?
Fiquei pensando em como eram os humanos antes das cidades.
Acredito que éramos semelhantes as pombas. As maiores preocupações eram comer, dormir e não ser vítma de algum predador, no caso, animais.
Eram poucos, esparsos, ariscos, nômades...
Viviam de se alimentar da natureza, do que já existia. Viviam de encontrar um lugar razoavelmente seguro no novo local perto da comida. Viviam de fugir de alguns predadores, produzir algum tipo de arma para lutar contra outros predadores.
Eis que perceberam que poderiam criar uma forma de defesa contra a maioria dos predadores: cidades. As cidades poderiam ter muralhas para deixar do lado de fora quem possa fazer mal. Podiam ter plantações para não precisarem estar sempre de mudança.
Hummm mais eficáz colocar várias pessoas numa mesma cidade, para precisarem construir menos muralhas.
E agora? Razoavelmente protegidos e com uma certa segurança alimentar, o que fazer com o tempo livre?
Ah, o ser humano não se dá ao luxo de "desperdiçar" tempo livre!
Começam a se reproduzir. Começam a inventar moda. Começa a ganância. Começam a fazer novas armas... para lutar contra outras cidades, contra outros humanos.
Qual a necessidade?
Nisso eu tive uma idéia louca.
Se ensinarmos as pombas a criarem um ambiente seguro para elas mesmas, a cultivarem de forma sustentável seu alimento eliminando a necessidade de serem nômades. Elas vão ficar entediadas como os humanos? Elas vão se reproduzir loucamente? Vão inventar moda? Vão vivar gananciosas? Vão aprender formas de serem mais violentamente eficazes? Vão atacar outras "cidades-pomba"? Será que cairiam neste nosso ciclo vicioso? Nesta vidinha de crescer populacionalmente mais do que dão conta? De se colocarem em linhas de montagem? De querer saquear umas as outras? De perder o sentido do que fazem por um "bem maior"? Será que virariam máquinas de propagar o... nem sabem bem o que, mas propagam! Será?
Não consigo entender a necessidade humana de ocupar cada segundo de sua vida, de se propagar epidemicamente, de invejar o que é do outro, de querer controlar os outros, de querer saber o que é melhor para o outro, de criar regrinhas e ficar vigiando os outros com o prazer sádico de apontar quando alguém erra, quando alguém não faz o que é esperado. Esperado e totalmente artificial.
Tenho certeza que o "bicho inútil" é mais feliz que o mais feliz da minha espécie. Ou será que pombas também fofocam? Também ficam fazendo intriguinhas? Também ficam desperdiçando suas vidas com banalidades que foram transformadas em valores?
Cada forma de existir, de organização social, possui suas vantagens e desvantagens. Nos cabe analisar se esta nos é aceitável. Nos cabe lutar para que possamos, ao menos, escolher.




Postado por Ricardo Ceratti.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ir e Vir.

Ainda da série "inspirado pelo Fórum da Liberdade" lembrei-me que foi comentado da veracidade de nossos direitos fundamentais.
Em especial o direito de ir e vir.
Chega a ser ridículo que um país com tanta criminalidade como o nosso tenha na constituição que "todo brasileiro tem direito de ir e vir dentro do território nacional".
Podemos sair sozinhos na rua durante a noite? Ir em qualquer lugar? Podemos ficar dentro do carro estacionado na rua? Uma garota pode andar sozinha na rua quando escurece? Um grupo pequeno tem um mínimo de segurança para caminhar pela cidade durante a noite? É seguro respeitar o sinal vermelho no meio da madrugada?
E nem é só durante a noite. Eu, por exemplo, moro num bairro tradicionalmente seguro. Ou costumava sê-lo. Outro dia assaltaram uma pessoa que estava saindo de carro do condomínio. Dispararam alguns tiros dentro do condomínio fechado num horaráio em torno de 14h.
O que será que não deve acnotecer naquele campus do vale?
Sequestros de lotação no meio da tarde?
Nas manhãs de domingo? "esperando o gre-nal"...
Temos realmente direito de ir e vir?
Neste país em que vivo existe menos chances de sermos punidos pela lei do que protegidos pela mesma. Ou seja, as chances de escaparmos ilesos caso assaltemos alguém, por exemplo, são maiores do que as chances de escaparmos ilesos caso exerçamos nosso "direito de ir e vir".
Deprimente pensar que, talvez quem desrespeite a lei usufrua mais amplamente do direito de ir e vir do que aqueles que a respeitam...



Postado por Ricardo Ceratti.

Cercadinho.

Ainda sobre o Fórum da Liberdade, mas dessa vez tendo tido a decência de anotar o nome de quem trouxe a idéia, podendo dar os devidos créditos.
Durante o discurso de Denis Rosenfield surgiu uma crítica ao Estado decidir sobre a vida do cidadão.
Realmente permitimos ao Estado nos vestir com grilhões, sejam eles visíveis ou não.
De forma visível temos as leis penais, onde fazer determina ação gera uma determinada punição, seja ela multa, serviço comunitário, retenção, o que for.
O problema, ao meu ver são os grilhões invisíveis. Quer dizer, menos visíveis.
O Estado não lhe diz, por exemplo, que não podemos sair de noite e beber.
Porém temos uma lei seca realmente rígida (sem entrar no mérito se é adequada ou não ou se é fiscalizada apropriadamente ou não), associados com uma dificuldade de lomoção em transportes públicos durante a madrugada (eu, por exemplo, só posso voltar para casa de ônibus após 5:40h), preços salgados de táxi, altos impostos tanto para a bebida quanto para o comércio, que são repassados para o cidadão através de uma garrafade cerveja no bar custar algo como 4 reais e dentro de festa custar ainda mais caro.
Do outro "front" temos um dinheiro, um salário cada vez mais desvalorizado, o que não permite que nos demos ao luxo de tais gastos, pelo menos não em condições de não-raridade.
Cada vez se trabalha mais, se tem menos tempo, se ganha menos, se paga mais caro...
O álcool é só um exemplo de como, através de medidas secundárias, o Estado acaba realmente nos dizendo o que fazer mesmo não proibindo.
O mesmo vale para o cigarro com seus impostos e proibições. O que se pode dizer da França neste sentido então?
Não estou aqui apoiando ou criticando que se beba ou se fume, apenas exemplificando.
O palestrante anteriormente citado falou sobre um projeto de que todos carros saiam de fábrica equipados com GPS e que acarretaria um acréscimo de, aproximadamente, 700 reais no custo de um carro novo. E com qual objetivo?
O mais trágico é que, sem pararmos para pensar não vemos como as coisas estão interligadas. Pensamos que "é só uma lei" daqui e outra dali. Porém, com uma visão mais abrangente, como é de quem está "lá em cima", é possível ver claramente que tais leis não passam de cercadinhos aqui e ali para conduzir o gado, ou grande parte dele, a tomar as atitudes que se considera úteis. E para aqueles que não seguem o cercadinho existem punições, também indiretas, como multas e preços abusivos, coisas que, de um jeito ou de outro acabam beneficiando o Estado de qualquer forma.
Avaliando com uma visão abrangente e pensando nas práticas não só no agora como, também, nas suas conseqüências futuras, é possível ver claramente que nosso papel não passa de ser o de animal esperando ser domesticado.
Gado.



Postado por Ricardo Ceratti.

Compartilhando Idéias.

Semana passada participei do XXII fórum da Liberdade.
Achei um evento no geral bem interessante, com excessão das dublagens que eram mais confusas do que tentar entender por conta e com excessão de alguns convidados de discurso confuso e repetitivo.
De qualquer maneira, produtivo.
Durante um dos painéis um dos palestrantes (nem sei se é o termo certo para se referir) falou algo que me deixou pensativo.
Foi alguma coisa como exteriorizar idéias é ter idéias. No sentido de que a idéia na cabeça se encontra em fase embrionária e que vai se desenvolvendo na medida que a falamos.
Eu nunca tinha parado para pensar por este ângulo, apesar de já ter reparado tal acontecimento justamente aqui, no blog.
Muitas vezes eu tenho um breve lampejo de idéia. Uma base, um ponto de partida.
Dedicando algum tempo refletindo eu consigo elaborar a idéia um bocado e até chegar a algumas conclusões.
Porém eu notei que nunca consigo trabalhar com as idéias por completo, se é que tal existe, ou, pelo menos, numa quantidade que acho minimamente necessária.
Quando escrevo a respeito do que pensei aqui, as idéias se desenvolvem quase que por conta própria. É como se eu tivesse dialogando com outro Ricardo que me traz outros pontos de vistas e contra-argumenta comigo.
É bem freqüente eu começar com uma idéia e acabar deenvolvendo e finalizando o texto com um assunto bem diferente, uma vez que o caminho tomado na bifurcação acaba me parecendo mais produtivo ou "correto".
E assim o texto nasce com meu esforço, mas se desenvolve quase que por conta própria. Como um filho que cuidamos quando são crianças mas, depois de um certa idade nos basta dar um mínimo de auxílio.
Existem outras vezes, estas raras, em que durante o processo de escrever um texto, no desenvolvimento de uma idéia, eu me deparo com outros argumentos daquele outro Ricardo e acabo até mesmo mudando de idéia completamente. Como que a reflexão individual não tivesse sido o bastante para eu perceber coisas importantes que no meu diálogo solitário eu percebo com clareza.
Então, nem preciso dizer da contribuição existente quando o diálogo não é solitário.
A troca de idéias com outras pessoas, de preferência inteligentes e com vivências que as permitam diferentes pontos de vista ou opiniões das minhas, é algo altamente construtiva para qualquer forma de elaboração de pensamento.
Porém tal construção só pode acontecer quando as pessoas colocam sua abertura a idéias na negociação. Quando uma pessoa escuta o que a outra tem a dizer, reflete, adequa a informação nova e ponto de vista alheio, aos seus pensamentos e acaba criando algo que nenhuma das duas pessoas individualmente seriam capazes de criar.
Como eu opinei em outra ocasião, reforço agora, não consigo entender que vantagens a criação egoista de idéias possa trazer.
Um ambiente livre para coexistirem pensamentos divergentes e, para que os mesmos sejam digeridos... aliás, saboreados, é o melhor nicho para o desenvolvimento de qualquer forma de pensar, sobre qualquer matéria de conhecimento.



Postado por Ricardo Ceratti.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

"Visão".

Depois de algum tempo "psicologizando", observando o comportamento das pessoas, ajudando as pessoas em suas dificuldades, em elaborar seus traumas, as permitindo que se aceitem como são, estudando psicologia, etc. acabamos ficando bons demais em perceber o que se passa com as pessoas.
Não estou dizendo que sou um psicólogo "bom demais" nem nada disso!
Na realidade o que eu quero dizer é que, com minha experiência atual, apesar de limitada, eu acabo enxergando mais do que gostaria das pessoas.
No início é aquela habilidade que a grande maioria tem: de perceber as sutilezas de quem se ama, como a mãe percebe que seu filho chorou ou o amigo que percebe que a amiga não está bem.
Depois de algum tempo a "visão" expande e é possível perceber os detalhes até mesmo daquelas pessoas que não são tão próximas assim. É possível ver que um conhecido, um colega de trabalho, não está bem, apesar de que possivelmente não se entenda as razões para tal.
Com o treino e estudo a "visão" vai ficando cada dia mais aguçada. Uma grande porção das coisas é perceptível, mesmo contra nossa vontade.
E é nesse estágio que me encontro atualmente.
Sei que com mais prática esta visão vai acabar ainda mais eficiente, mas não é disso que quero falar.
O fato é que não há mais como voltar atrás. A experiência permite enxergar mesmo que se deseje ser cego.
É justamente neste momento que a dor do mundo acaba virando a nossa dor individual.
É nesse momento que não conseguimos NÃO perceber o sofrimento alheio. E acredite em mim, existe muito sofrimento por aí!
Não estou dizendo que não existem pessoas felizes ou que não existam coisas boas. Não sou tão pessimista assim!
O problema é perceber toda essa dor. De que adianta? Mesmo a pessoa mais dedicada do mundo, vivendo num mundo onde as pessoas se abrissem para estranhos que os quisessem ajudar (ao invés do atual medo proveniente da crença [justificada] de que não existem pessoas que queiram fazer o bem sem algo em troca), não seria capaz de ajudar todos aqueles que percebe em sofrimento.
Mesmo que esta pessoa que quer ajudar não se destruisse ao tentar curar toda dor do mundo.
Mesmo que esta pessoa não precisasse dormir nem comer. Que tivesse 24 horas de seu dia para "consertar" quem está "quebrado".
Mesmo assim, ainda teria que deixar passar tanto sofrimento, tanta dor.
Chego a me questionar de que adianta esta profissão. Mas obviamente me respondo em poucos segundos de que é melhor ajudar alguns do que não ajudar ninguém.
Queria encontrar uma solução. Uma forma de resolver o problema. Resolver por todos os lados. Menos pessoas passando por situações que as causam sofrimento, bem como mais e mais psicólogos dedicados a "curar" todo mundo.
Mais irrealista, impossível. Infelizmente.
Chega um ponto que esse "dom" da "visão" se torna um fardo.
Não sei se ainda o quero.
Talvez, nem que fosse por alguns meses, alguns dias, algumas horas que seja, eu gostaria de ser "cego". De não enxergar nada disso. De fingir que TUDO está bem, de que o mundo é um lugar maravilhoso para se viver e os outros humanos são excelentes companhias.
Não me olhe assim! Algumas pessoas realmente conseguem! Ou pelo menos elas fingem bem demais para que minha "visão" mediana enxergue através delas...
Será que existe alguma lente que me permita, por alguns momentos, voltar a ser um dos "cegos"? A não ver mais a dor do mundo?




Postado por Ricardo Ceratti.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Insana Vingança.

És arauto de tua insana vingança.
És quem, durante anos, construiu as condições necessárias para que tua vingança um dia ocorresse.
És quem sistematicamente destruiu aquilo a que a ti fôra confiado.
És quem manipulou, distorceu, corrempeu, enfraqueceu, esquizofrenizou; és quem usou todas as forças que tinha para que o alvo de tua vingança jamais tivesse forças próprias.
Forças para se amar, forças para se defender, forças para lutar por si, forças para apreciar a vida. Forças para querer viver.
Então veio o dia em que a mão de tua insana vingança agiu.
O recepiente que cumpriu diretamente tua vingança.
Vingança que só pôde acontecer graças aos teus esforços, graças a tua dedicação de anos.
Agora, diga-me:
Quem faz mais mal? Em quem reside a verdadeira culpa de tua insana vingança?
Na mão da vingança ou na mente que arquitetou a vingança?




Postado por Ricardo Ceratti.