terça-feira, 12 de abril de 2016

Os dois tipos de banho

Em certos momentos fico conflitado pelo desejo de tomar um banho gelado, e assim me livrar de tudo de negativo que se prendeu à minha pele, com finalidades de parasita, ou um banho quente, e me sentir acolhido e abraçado por completo.
O banho gelado acorda o guerreiro que não acredita em obstáculos, que acredita que pode a tudo vencer. Uma eletricidade passa a ser transpirada e não há tempo a perder.
O banho quente dá colo ao bebê que foi nocauteado pela vida e não consegue mais se erguer. Surge uma necessidade de conforto acolhedor de certas comidas e de dormir. É preciso recuar, se recolher, se isolar o tempo que for necessário para se recuperar.
Obviamente que prefiro os efeitos do primeiro tipo de banho, mas não costuma ser uma escolha.
O fato é que uma faceta depende da outra:
O guerreiro não pode lutar infindáveis batalhas sem descanso, ou correrá o risco de ficar irremediavelmente fadigado, exaurido de todas suas forças.
O bebê não pode recuar e descansar para sempre, ou nada será realizado ou conquistado na vida. Definhará por sua própria insignificância.
Engraçado como o corpo sabe do que precisa.
Mas algumas vezes, ao final de longos minutos de banho bem quente me sinto sufocado por tanto colo e pronto para enfrentar a realidade novamente, invertendo a água para uma ducha gelada.
Graças ao lado frágil o lado forte está pronto para lidar com novos desafios que a vida apresenta.




Postado por Ricardo Ceratti.

sábado, 9 de abril de 2016

Contingências

O quanto nossas avaliações das situações vividas são realistas?
Existem tantas variáveis, tantas coisas que poderiam ser diferentes, que um evento, acontecido numa outra das mil variáveis maneiras, passaria a ter uma significação completamente distinta.
Aquele emprego detestável seria uma salvação se viesse no momento em que suas economias estavam quase esgotadas e por meses você não obtinha sucesso na busca por qualquer ocupação que gerasse renda.
Aquele relacionamento morno e tedioso poderia ter sido a melhor experiência afetiva de sua vida caso ambos possuíssem tempo e dinheiro para atividades de lazer que ambos gostam, o que desencadearia em descobrir excitantes facetas da outra pessoa, propiciando conversas inspiradoras e compartilhamento de hobbies extremamente gratificantes.
Aquele reinado de boa fortuna, na qual todas pessoas achavam você interessante, e inúmeras portas se abriam, poderia nunca ter existido não fosse o bom humor e confiança inspirados pelo sucesso daquela idéia inovadora na qual você decidiu investir.
O nascimento de seu filho não planejado pode vir ser a única forma de motivação para estudar para um concurso público, ou demonstrar empenho e ser promovido no seu emprego.
Sua melhor amiga poderia não ocupar o posto que ocupa não fosse estar na hora e local certo quando você estava no dia mais triste da sua vida, precisando de um ombro (e ouvido!) amigo.
A situação define a interpretação da experiência.
Mais do que isso, a situação define como, quais, quantas experiências serão vividas. E seus possíveis resultados. E a interpretação destes resultados. E a reação que damos a estes resultados. Um ciclo sem fim!

Pensando no âmbito das possibilidades, não existe, salvo exceções, situação intrinsecamente boa ou ruim. É apenas tida como tal para aquele momento, naquelas condições, com aquela mentalidade, desejos e sonhos que você possuía na época.



Postado por Ricardo Ceratti.