quarta-feira, 4 de março de 2009

A Infame Existência.

Há muito tempo cheguei a uma conclusão, percebi uma coisa.
Há pouco tempo uma outra coisa ficou clara para mim. Um complemento da primeira, que tem tudo para ser óbvio e, ainda assim, levei tantos anos para me dar conta.
Por fim, pensei por algum tempo a respeito de tornar minhas descobertas e pensamentos públicos ou não.
Analisei meu dilema e decidi que este texto nasceria e veria o mundo. E o mundo poderia vir a vê-lo, se assim o desejar.
Tenho consciência que a maioria daqueles que ler este texto me considerará arrogante. Talvez até o mais arrogante dos seres.
Tenham, por favor, em mente que este fato foi pesado durante minha reflexão e, por fim, concluí que é um risco que estou disposto a correr.
Este provavelmente é um ponto de onde não poderei retornar, e estou de acordo com isto.
Aliás, agora que decidi começar confesso que estou até ansioso por cruzar a linha.
Para começar, preciso confessar abertamente uma coisa que geralmente só meus amigos mais próximos me ouvem confessando:
Me acho superior aos outros.
Não a todas pessoas do mundo, obviamente.
Apenas a sua quase-totalidade.
Essa "gente", esse "povo" do qual é formado o grosso dos seres humanos de "nosso" planeta é o motivo da minha incomodação.
Estas pessoas desprovidas de senso crítico.
Que fazem o que mandam, sejam comandadas diretamente ("faça tal coisa") ou indiretamente ("você deve entrar na faculdade depois do colégio", aliás abro um breve elogio ao autor da frase "pra queM serve teu conhecimento?").
Pessoas que jamais questionam nada. Não questionam sua vida, suas escolhas, suas leis, seus políticos, suas ações, etc.
Pessoas que aceitam tudo da forma que lhes chega.
Que engolem qualquer coisa que lhes dizem para engolir.
Sem jamais questionar.
Apesar de achar um tanto ofensivo para as formigas, digo que nossa "humanidade" não passa de um formigueiro.
Estas "formigas" nascem sob uma dada condição e a aceitam como única. Jamais se perguntam se existe alguma opção, uma alternativa.
Seguem suas vidinhas sem refletir por um momento sequer.
Fazem suas escolhas. Aliás, "escolhas", pois de escolher não há nada. No fundo suas opções já se encontram em tal nível de pré-definição que, as próprias opções servem como forma de empurrá-los para seguir no caminho esperado, no curral.
E é isso que fazem ao longo de suas vidinhas banais. Seguem pelo curral, sempre em frente. Jamais olham para o lado o suficiente pois o curral é construído de uma maneira que pareça grande para o pobre gado. Que o gado consiga se convencer de que é livre.
Estas pessoas acabam por sentir 1 vazio em suas vidas.
Mas não se preocupe!!! Elas JAMAIS perceberão a causa! Estão razoavelmente seguras em seu razoavelmente confortável curral que razoavelmente as supre em suas necessidades.
Elas buscam alternativas para o vazio. Coisas que já comentei a respeito em outros textos:
As crianças brincam até ficarem exaustas.
Os jovens acham que encontrarão a cura para o vazio em várias bocas ou corpos em uma festa.
Os não tão jovens acreditarão que a cura para o vazio está no amor, em encontrar a pessoa certa.
Outros acham que são aS pessoaS certas.
Alguns se dedicarão com afinco aos estudos, buscando um emprego melhor em que não trabalhem muito, em algo que não detestam tanto e que ganhem bem.
Outros se fundamentalizarão para a religião. DEUS SALVA! Passarão a vida rezando, pregando, fomentando ou se alistando a guerras santas.
Há aqueles que acreditam que a cura para o vazio seja o crescimento material mais rápido possível. Roubarão e trapacearão tantos quantos forem necessários para alcançarem seus obejtivos com o mínimo de esforço ou tempo perdidos.
Não podemos esquecer aquelas pessoas que acreditam que a cura do vazio está na fama.
Temos, também, os dedicados as causas nobres. Aqueles que acreditam que se não comerem carna salvarão o mundo ou que fazer trabalho voluntário em alguma ONG seja o que lhe falta.
Também existem aqueles que parecem estar no caminho certo. Aqueles que questionam, que buscam mudar as coisas, que querem abrir os olhos das pessoas, etc. O maior problema deste grupo é a densidade de pessoas que, no fundo, só estejam buscando algum tipo de fama ou algum ganho próprio. Ou seja, no fundo este grupo é formado por pessoas de outros grupos, porém disfarçadas.
Temos os artistas, sejam músicos, pintores, escultores ou escritores, que, para mim, é uma arte. Trata-se de um grupo dividido. Há aqueles que só querem criar uma música, um quadro, uma escultura, um poema ou livro. Sem grandes ambições ou, talvez, com ambição como o grupo anterior: fama e lucro. E há aqueles que querem mudar o mundo. Também, no geral somente outros grupos disfarçados. Os poucos que realmente querem mudar o mundo rapidamente mudarão de objetivo e acharão tão mais atraente fama e fortuna.
Nossos políticos então? Nem preciso comentar, certo? Ainda mais em se tratando de Brasil, uma nação onde todos sabem que os políticos roubam e mesmo assim escolhem alguns deles ou algum partido para defender. O argumento? Não poderia ser mais deprimente: "Fulano rouba menos que beltrano, por isso eu votarei nele e por isso que tu deve fazer o mesmo!". O mais interessante deste caso é ver o conformismo, um dos motivos da minha reclamação e uma das característica "dessa gente" que nomeia a si próprios de "humanidade".
De uma maneira geral acredito que já tenha me feito entender como são esses "humanos". Já devo ter exemplificado o suficiente para entenderem como são pessoas de visão estreita, mesquinhas, trapaceiras ou, no mínimo, que enganam a si próprios.
Nenhuma destas pessoas preencherá seu "vazio", pois nenhuma de suas ações diz respeito ao "buraco". Apenas encontram formas de esquecerem dele. Encontram distrações que acreditam piamente que irão satisfazer suas necessidades.
Há ainda aquele tipo de pessoas que cansou de buscar peneiras. Este tipo de pessoa se especializa em tornar a vida dos outros mais miserável ainda. Eles criam valores, se convencem de que estão certos. Passam suas vidas a julgar os outros. A tentar, de alguma forma ou de outra, sufocar a busca por "felicidade" do máximo possível de pessoas. De uma forma simplificada e resumida, tentam ser mais felizes por associação, por deixar os outros mais infelizes. E se convencem que é muito justificável e de que realmente os faz felizes.
Já falei que esses "humanos" são mesquinhas?
São invejosos também! Não podem ver nada nos outros ou dos outros que já querem para si. Os invejosos saudáveis buscam para si por acharem que aquela outra pessoa encontrou a solução para o "vazio". Já os destrutivos vão tentar acabar com a tal da "felicidade" alheia, que não passa de uma dose de sua droga pessoal para ignorar a realidade e acreditar que é feliz.
Estes "humanos" conseguem destruir qualquer coisa que tocam. Destróem a natureza, o próximo, o não-tão-próximo, o que tem e o que não tem.
Criam rótulos e divisões para si próprios, numa tentativa desesperada de encontrar identidade. Aliás, esta "identidade" é mais uma das tentativas do bom e velho preenchimento de "vazio".
Com essas divisões eles rapidamente buscam inimigos. Alguém de outra "tribo", de outra religião, de outro time, de outra nação, de outra opção sexual, de outra cor, de outros gostos, etc.
Não é de se admirar nem um pouco essa busca enlouquecida por inimigos. Enquanto estão em guerra, se beneficiam do mesmo "barato" (drogas, aliás, é outra forma de fugir do tal do "buraco") daqueles que estão pisando nos outros, pregando sua religião, transando com várias pessoas, estudando para uma vida melhor ou qualquer outra forma de fuga. Estas guerras servem muito bem de distrações. Os coloca num estado de frenezi onde recebem aquelas vendas de cavalo e não precisam mais se preocupar com nada que não esteja a frente. Realmente eficáz. Mas eventualmente conseguirão a tão esperada vitória decisiva. E agora? Não aconteceu o que esperavam que aconteceria, certo? Não preencheu, certo? Tudo mudou mas, no fundo, nada realmente mudou.
Estes "humanos" precisam de arsenal para derrotarem seus inimigos. Logo estão colocando seus cientistas para que descubram alguma forma mais eficaz de vencer. Uma tremenda pena, uma vez que, apesar de falhos, cegos e desnorteados, os tais humanos são capazes de criar tantas coisas úteis e que os beneficiem tanto. Coisas estas, porém, que não passam de tentativas (fracassadas) de resolver o que acreditam ser seus problemas. Coisas que, por mais úteis que sejam, irão demandar a criação de novas coisas, uma vez percebendo que as anteriores não foram suficientes para lhes preencher o "vazio".
Mas... se as criações não ajudam, o que ajudará?
Animais!
Animais só pode ser a solução!
Então eles se apegam aos seus cachorros ou outros animais. O cachorro é o escolhido na imensa maioria dos casos por se tratar de um animal que jamais será rude com o "dono", sempre estará alegre, disposto a festejar a presença de seu "dono", sempre muito amigável, não importando o quanto seja tratado mal, o quanto o "dono" lhe descarregue suas frustrações (logo compensadas por inverter a posição e se tornar pertence do animal, lhe fazendo todas vontades).
Excelente solução, não sabem lidar uns com os outros. Muito menos sabem refletir sobre sua própria vida. O jeito é ter um "bichinho" para ser seu capacho, seu companheiro, seu ouvinte, seu melhor e fiel amigo.
Preciso continuar mostrando como estes "humanos" são ridículos?
Roubam, matam, mentem, manipulam, estupram, sequestram, julgam, corrompem, pisam, usam, traem, destróem, sujam... UFA!
Alguns não fazem alguns destes itens, outros não fazem outros. Mas todos fazem algum.
Mas exsite um item que praticamente TODOS fazem.
Filhos.
Praticamente todos eles se consideram importantes demais para partirem deste mundo sem deixar seu legado, sua continuação. Mesmo sabendo que o mundo já está "lotado". Mesmo que aconteça o milagre de ter um breve vislumbrar do lixo em que vivem e com o lixo que convivem/são.
Depois eu sou o arrogante.
Quase todos acreditam que isso se trata de um direito que possuem, que não é nada além do "justo" (esta palavra ultimamente tem me dado vontade de rir ironicamente) que se enganem que suas vidinhas medíocres ganharam um significado maior. Ou ainda, que suas vidinhas insignificantes E finitas agora podem continuar em outra pessoa (mentalidade pela qual muitos pais querem mandar na vida de seus filhos, escolhendo curso que farão, profissão que trabalharão, pessoas com quem se relacionarão, etc.).
Deprimente.
Espero que tenham entendido até aqui.
Entendido o motivo de esta "humanidade" me enojar tanto. De eu os considerar tão podres, vazios, inúteis...vermes.
Talvez percebam o motivo de eu me considerar superior, pelo mero fato de eu parar para pensar, questionar, ver a idiotisse que é isso tudo. Me considerar superior justamente por me ENOJAR com isso tudo.
Mas, assim como estas pessoas, eu busco algo no qual eu acredito que fará meu estômago parar de se contorcer.
As pessoas mais próximas de mim sabem qual é este meu objetivo, que não é tão inalcançável.
Eu deposito todas minhas (poucas) esperanças de que, alcançando este objetivo as coisas serão melhores, serão aceitáveis.
No fundo sei que não é o que acontecerá.
Sei bem que encontrarei felicidade por encontrar uma existência mais evoluída.
Assim como sei que a mesma felicidade cessará em pouquíssimo tempo e perceberei que melhorou, mas no fundo continua a mesma coisa.
Já prevendo a decepção, me coloquei um segundo objetivo, esse bem menos realista.
Objetivo que, a princípio solucionaria os problemas. Porém que duvido que seria "permitido" que fosse alcançado. Lembram-se da tal da inveja e daquela coisa de não permitir que os outros tentem ser felizes para se sentir feliz? Pois então.
De qualquer forme meus objetivos não importam aqui.
O que importa é a coisa que eu percebi há pouco tempo, conforme disse na segunda linha deste texto.
Há pouco me dei conta de uma obviedade e tenham a certeza de que me sinto ridículo por não tê-la percebido antes.
Talvez eu me ceguei até então por medo de lidar com a realidade. Talvez era minha forma de ignorar o problema real. Talvez essa fosse a MINHA droga: alguma ignorância.
Percebi que, por mais que eu odeie os "humanos", eu sou um deles.
Sou um ser de carne e osso como todas essas pessoas insignificantes.
Vou viver minha vidinha cercado por essas pessoas, da mesma forma que essas pessoas vivem suas vidinhas cercadas de outras pessoINHAS.
Vou ficar cada vez mais fraco, mais cansado, mais insano talvez. Por fim, morrerei. Exatamente como esse "povo".
Me alimento, durmo, respiro e realizo outras necessidades essencialmente da mesma forma que aqueles tantos a quem tanto desprezam o fazem.
Sou um deles.
Sou mais um.
No fundo sou o que odeio.
Agora, alguém pode me explicar como alguém vive com isso?
Como pode um ser viver com o pior destino que gostaria de ter para si. Não só isso, como um destino que SABE que JAMAIS poderá mudar.
COMO? Como pode alguém viver sendo seu objeto de desprezo sem poder fazer nada para "resolver" isso?
Sinceramente me parece a coisa mais deprimente do mundo.
Sei que muitos dirão "tu não sabe o que é deprimente" ou "tu não sabe o que é ruim". Talvez alguns "tu não passa de um cara mimado que só sabe reclamar".
Pode ser verdade. Mesmo! Mas, para mim, esta parece ser a pior sina.
Pode não ser a que mais atrapalha no cotidiano, mas quem disse que eu desejo um cotidiano funcional?
Pode não ser a que mais dói, a que mais castra, a que mais entristece, a que mais debilita ou a mais fatal.
Ainda assim a vejo como a pior, uma vez que é meu presente BEM COMO meu destino. Uma vez que não é algo que possa ser modificado, consertado. Não é algo que possa se jogar dinheiro em cima, que possa ser resolvido com uma prótese, com comida, com terapia, com bons amigos, com um amor, com um bom emprego. Ei! Não é algo que possa ser resolvido nem com a morte!
É um eterno companheiro. Um péssimo companheiro, na minha opinião. Um companheiro maldito do qual, por mais que se tente, jamais nos desfaremos. Um companheiro eterno, uma sina, uma maldição.
É assim que me sinto agora, um ser maldito.
Talvez agora as coisas comecem a fazer sentido.
Talvez esse seja o motivo de eu SEMPRE ser um forasteiro onde quer que vá ou tente fazer parte.
Talvez seja por isso que meu sorriso quase nunca seja sincero, apesar de eu enganar bem.
Talvez seja por isso que sinto tanto peso. Um peso que jamais consigo tirar de mim.
Talvez seja isso...
Talvez a maldição de não ser um deles, ao mesmo tempo em que SOU um deles, seja a real causa desta vida parecer tão absurdamente retardada.
O único conforto que me resta é saber que não estou sozinho neste mundo. É saber que existem outros "não-humanos" como eu, que também não fazem parte, que também percebem como tudo é falso e desprovido de propósito válido.
E, talvez, esses outros também estejam perdidos. Talvez também não entendam o motivo de sua angústia. Ou pode ser que hajam aqueles que já perceberam tudo isso que percebi e muito mais.
A conclusão que cheguei é que meu objetivo talvez não seja aquele primeiro que mencionei. Aquele tão dentro da realidade.
Talvez meu real objetivo seja acabar com essa maldita disáspora que se aflige sobre os membros da mesma "espécie" que eu. Talvez seja reunir o máximo possível de nossa gente.
Talvez...
Talvez... talvez seja mais um paleativo que busco na esperança de mudar o que sei ser imutável. Talvez seja a minha droga. A minha forma de me focar em algo para perder meu tempo o suficiente para não olhar para a dor.
Espero que não seja o caso, apesar de duvidar da minha esperança.




Postado por Ricardo Ceratti.

5 comentários:

Marina D.Tolotti disse...

Muitas vezes me pergunto se em outra condição eu seria como eu sou. Caso tivesse nascido em outra país, em outra família, será que eu não seria pior ou melhor do que me tornei? Será que eu naum seria como aqueles que eu tanto critico? Duvido muito que quem nasça em lugares medíocres consiga ter uma visão mais abrangente, consiga perceber que há outras formas de viver, que as coisas podem ser mudadas. Porém acho que o pior é saber que pessoas que tiveram condições de se desenvolverem como pessoas, negaram essa oportunidade e se acomodaram em suas vidinhas, afastando-se das inquietações e se refugiando num mundo que conspira para que não pensemos, para que sejamos conformados, sem maiores objetivos, sem grandes expectativas. É e isso que a grande massa recebe e assim passa seu tempo livre assistindo bobagens na TV e ouvindo músicas que nada dizem.
Ninguém quer ver sua infame existência ou enchergar o que há de errado no mundo, o que há de errado em si e tentar mudar, tentar crescer. É difícil ir contra a maré e ainda assim ser feliz. Mais fácil é acreditar que a vida é assim mesmo, e não há nada que se possoa fazer.
Nas imprestáveis aulas de catequese tinha uma oraçao(não importa que era oraçaõa) que eu acho que era assim: Dai-me forças pra mudar o que pode ser mudado, serenidade para aceitar o que não pode ser mudado e sabedoria para distinguir um do outro.
O que tu tanto odeia é o que tu não pode mudar.Fisicamnete tu é igual a todo formigueiro, mas aquilo que dá sentido a tuda vida( por mais árduo que seja), aquilo que te torna diferente é algo que é só teu, que quem construi foi tu e que faz ser quem tu é.
Se tu se condisera superior, como pode se incomodar tanto por fazer parte deles? Tu faz parte de um grupo mas tu não é esse grupo. Todas as necessidades vitais tuas são iguais as deles e embos tentam supri-las, mas as necessidades existências não são iguais, e nem todos querem tapar seus buracos. Mas tu não quer se acomodar, não quer por um momento se igualar a eles, isso é importante pra ti, não fazer isso é ir contra o que tu acredita, e por mais que em algum momento tu posso achar que também está fugindo tu cogita todas as possibilidades é tipo como a frase “penso, logo existo,” tua existência não é tentar realizar sonhos nunca sonhados por ti, mas que parecem importantes de serem realizados, nem viver num automatismo onde as ordens só mudam de voz. É como se fosse impossível viver sem pensar, mas ao mesmo tempo estamos rodeados de exemplos que beiram o impossível.

The Drunken Scientist disse...

Acho que a trilha faz a pessoa. Talvez se não tivéssemos visto o que há de podre tão de perto, se nossos assentos fossem um pouco mais distantes...
Talvez se não tivéssemos tido acesso a certos livros, conhecendo determinados pensadores que nos fazem perceber que não estamos sozinhos pensando em determinada coisa, que não somos loucos internáveis por tais pensamentos...
Talvez se tivéssemos nascido em outro tempo. Sem o acesso tecnológico que temos hoje. Sem os conflitos que enfrentamos hoje...
Talvez se nossas vidas fossem perfeitinhas, sem nada de ruim jamais tivesse acontecido conosco ou com aqueles que nos são próximos.
Talvez se tivéssemos visto alguma vantagem em ser como os outros antes que pudéssemos desenvolver nosso pensar ao ponto de perceber que lutar pelos nossos valores é mais importante do que bens materiais ou uma existência apaziguada pela ignorância.
Tantos "talvezes".
O fato é que o caminho foi trilhado e estamos aqui hoje.
Realmente existem situações onde não se pode se dar ao luxo de pensar fora do cercadinho.
Mas, se analizarmos a porcentagem de pessoas que estiveram com a possibilidade de pensar além em suas mãos, e a colocaram fora... é realmente deprimente!
Acreditar que a vida é assim é o mais fácil. Não pensar no problema dói menos. Não saber que o problema existe então, é um processo quase indolor. ;)
Além do fato de existirem cada vez mais distrações e "guias" para nos "abençoar" com o caminho da ignorancia. Seja a televisão com seus programas idiotas, sejam as religiões com suas leis e promessas irreais, sejam até mesmo as notícias, muitas vezes de cunho distrativo, ou, talvez o pior dos "guias", sejam nossos amigos e parentes, que nos dizem o quanto é errado pensar nas coisas, o quanto é errado querer mudar, o quanto é "infantil" não se contentar e acomodar com o que está errado, o quanto devemos nos "aquietar".
Não te incomoda fazer parte destes seres tão inferiores? Não te incomoda que por mais que tu te desenvolva, por mais que tu lute, por mais que tu mude as coisas, tu sempre vai ser parte do que tu tanto odeia? Tu sempre vai ser parte desta espécie que não tem mais solução? Sempre vai ter que conviver com esse "povinho". Que tentar mudar o mundo é 1 guerra perdida antes de sequer começar, apesar de que cada batalha vencida, por menor que seja, é motivo de grande comemoração.
Enfim, não te incomoda que, por mais que tu possas te afastar, tu ainda serás um deles?
A mim incomoda. Incomoda como se eu estivesse numa sujeira que não fosse limpa com banho algum do mundo.
Quanto a ser impossível viver sem pensar... acho que para forasteiros como eu e tu, isso é uma realidade. E uma realidade por vezes torturante, um peso quase insuportável. Porém, para a maioria das pessoas isso não é nem de longe um problema, uma vez que pensar é algo que não consta no dicionário da grande maioria. Algo que, o dia que acontecer, se acontecer, virá como um susto.
Mas quem não está acostumado com o tal do "pensar" nãaaaao precisa se preocupar!!! Os governos estão o tempo inteiro criando leis sem sentido somente para gerar polêmica e nos fazer "pensar" a respeito delas, ao invés de pensar coisas mais relevantes. A mídia estará sempre criando ficções e mais ficções, sejam elas filmes, séries ou até mesmo notícias. Sempre teremos as músicas sem conteúdo mas que "são boas de dançar em festa". Resumindo... não se preocupem pois existe MUUUUIIIITA gente trabalhando para que VOCÊ, caro amigo, cara amiga, jamais precise questionar sua própria existência... infame.

Marina D.Tolotti disse...

O que é pra ti ser um deles se tu não é como eles? É tão igual e tão diferente,mas igual em coisas que fogem do teu alcance, é a mesma caixa mas não o mesmo contéudo. Acho que o pior não é ser um deles, mas conviver com todos eles. É desanimador, é frustrante, por vezes irritante. Mas isso não vai mudar.. Mas tu não é o único incomodado, tu não está sozinho,e talvez seja esse o único conforto. Talvez ficar indignado, chateado com isso, seja perda de tempo. Eu preferiria ser um deles e poder me afastar, mas não há muito pra onde fugir, apenas é possível esquivar-se , mas de qualquer forma a gente é atingido. Tu pode estar na sujeira, mas não é tu que está sujo!

Anônimo disse...

Ricardo! Quanto tempo, criatura! Chego a ficar sem jeito de comentar essas coisas diante de um texto tão bem escrito e com tantas idéias para se pensar. Pois confesso: penso sim. Antes que alguém discorde (não sei porque, me pareceu necessário ficar na defensiva aqui). E lendo teu texto percebi que muitas coisas (não todas) parecem ter sido saídas da minha cabeça também. Sou meio humana, meio não-humana. Não sou forte o suficiente pra relacionar todas as minhas descrenças na raça humana e todo o meu nojo por seres medíocres em um texto, como o teu. Nem sou capaz de me manter totalmente distante das "humanices" desta vida. "Odeio, mas faço igual" pode ser meu "slogan".
O que me veio à cabeça durante a leitura foi uma besteira, um pré-conceito que temos (nós, meros humanos) diante de profissionais que acima de tudo são pessoas normais e não dispõem as 24 horas do seu dia para o trabalho ou estudo. É o seguinte: na minha percepção meio torta, pensei que a Psicologia talvez fizesse com que as pessoas se moldassem à forma humana e aceitassem as diferenças e todo aquele blá-blá-blá infantil de "você é insubstituível". Óbvio, besteira minha. Ouvi tantas vezes a asneira de que as pessoas fazem Psico para tratarem a si mesmas que ficou inscrito na minha mente. Sou só uma humana, nesse aspecto.
Mas sendo metade não-humana, questiono o motivo de as pessoas assistirem Big Brother, partidas de futebol, novelas, e ainda por cima se moldarem conforme o que viram. Para mim, é o mesmo que entrar em uma fôrma industrial, de onde saem todos iguais, humanos imperfeitos (porque nenhum chegará à perfeição para que não interrompa sua busca nas novelas e tramas "Grobais"), todos com os mesmo desejos, a mesma rotina, a mesma necessidade de acordar para trabalhar ou estudar, tentar ascender na carreira, obedecer a um chefe ou ser o chefe e mandar nos outros, apenas obedecendo ao sistema, o sistema que já é capenga, alienado, tombado pela podridão humana. Queria saber se é melhor fugir ou se moldar. Pelo que entendi, essa também é tua dúvida.
Sei lá se tu gosta de Engenheiros, talvez tu até já conheça essa música, senão quando tiver um tempo ouve ela: Outras Frequências. Talvez o Humberto seja um não-humano. Talvez seja apenas impressão.

Cuide-se, moço! Se tu ainda existir no MSN, nos falamos por lá!
Bjos da Nathália! (caso não lembre, das Artes da UFRGS, hehehe)

P.S.: a propósito, já terminou as cadeiras do primeiro semestre?

The Drunken Scientist disse...

Realmente, o convívio acaba sendo pior do que compartilhar a espécie. Talvez se vivessemos em um planeta onde eles não existem, não me importaria de ser um deles...
O conforto de não estar sozinho traz consigo a missão de buscar e trazer para perto outros como a gente, para suavizar o efeito negativo que o convívio com os "humanos" me (nos) causa.
Se tu fosse um dele, tu provavelmente não iria querer te afastar.

Agora vamos aos 300 comentários de Nathália! hehehe
Obrigado pelo "tão bem escrito".
Não te preocupes com a defensiva. É mero reflexo de anos de convívio com os tais "humanos" que tanto te castraram os pensamentos.
Vou tentar responder da melhor maneira possível, mas não tenho certeza se entendi direito o que tu quis dizer.
A psicologia busca aceitar as pessoas como elas são, especialmente a linha a qual me identifico mais. Apesar disso, precisamos refletir sobre dois "poréns":
1)Entender e aceitar as pessoas não faz com que estas pessoas não nos incomodem ou não se ache que as coisas estão erradas. Não é o mesmo que querer as pessoas próximas a ti.
2)Uma coisa que as pessoas costumam esquecer (ou fazem questão de esquecer) é justamente o que tu falaste no início desse parágrafo: "...não dispõem as 24h do seu dia para o trabalho...". Ou seja, muito se cobra que os psicólogos ajam no seu cotidiano, na sua vida "civil", como se estivessem em consultório fazendo uma terapia. Se fosse assim seria justo que qualquer pessoas que entrasse em contato com o tal psicólogo, a qualquer hora do dia, pagasse pela consulta, mesmo não sendo oficalmente uma consulta, não concorda?
Realmente, não é tão besteira assim de as pessoas fazerem psico para se tratarem... muito já ouvi colegas falando que sai mais "em conta" fazer o curso e se tratar e dpois trabalhar com isso, do que simplesmente fazer uma terapia. Sem comentários.
Não, essa não é minha dúvida. Jamais considerei a hipótese de me moldar. Inclusive na minha adolescência tive uma psicóloga que me sugeriu basicamente isso, que eu me moldasse, que eu fizesse parte de alguma "tribo". Não preciso nem dizer que aquela foi uma das últimas sessões, né?
Algumas músicas gosto, irei escutá-la.

Basta tu aparecer no MSN e não terminei.

Agora que fui ver que recebi 3 comentários iguais hehehehe Eu já me preparando para uma longa sessão de respostas...