sábado, 18 de novembro de 2017

Estados mentais e silêncio

Imagino que hoje em dia todo mundo já saiba o que é ser introvertido ou extrovertido. E também que em torno de 2/3 da população é extrovertida (ou ao menos pende mais para este lado do espectro).
Vou super simplificar para entrar no tópico que quero abordar: extrovertidos precisam de coisas acontecendo, interação, alto estímulo, e surtam com ficarem sozinhos ou com o silêncio; enquanto introvertidos são mais sensíveis aos estímulos e possuem muito o que fazer dentro de suas cabeças, o que é atrapalhado pela interação na vida real, e por isso que surtam se não conseguem uns bons momentos de silêncio.
Silêncio: de maneira geral a não ser que você se isole, é algo mais raro que ouro.
Vivemos num estado permanente de barulho, mas isso é okay, pois a maioria da população gosta disso, ou sequer percebe. Mas isso é uma tortura imensa para os introvertidos.
Proponho um teste, que seria bem legal se muita gente fizesse levando bem a sério, e compartilhasse seus resultados depois. Analisar durante um dia inteiro a frequência de barulho em seu dia-a-dia. Assim, viver normal, ir trabalhar, estudar, ver os amigos, ler um livro, ir para um parque, tomar café da manhã em casa, assistir televisão, o que for. Viva seu dia de forma normal (melhor dia de semana, senão você pode acabar se entocando em casa num domingo ensolarado que todos vão para um parque, e acabará tendo o dia mais silencioso da história da humanidade). Seria bom marcar quando um ruído começa e quando termina, bem como identificar quantos estão ativos ao mesmo tempo (por exemplo um é a televisão do vizinho ligada, o segundo é o cachorro latindo na rua, o terceiro são os garis falando alto uns com os outros enquanto recolher o lixo, e um quarto é um carro buzinando para o outro numa rua não muito distante), e se eu fosse tão sortudo, dar uma escala de intensidade experienciada (ou seja, o quão alto foi o som onde você está).
Não é preciso fazer o teste para saber que um dia normal é quase que inteiramente poluído por barulho. São raríssimos os momentos de silêncio a não ser que seja de madrugada quando todos estão dormindo (e talvez seja por isso que eu gosto tanto de ficar acordado na madrugada: para ter algumas horas de silêncio em minha vigília).
Agora vem a parte interessante. Vamos inverter isso? Fazer o mundo inteiro viver o inverso, no qual há silêncio em quase todas horas do dia, somente barulho e algo acontecendo durante a madrugada, ou caso você se isole da sociedade em algum barulhento templo budista, ou numa fazenda que mais parece uma rave. Me diga: quanto tempo levaria até que todos extrovertidos surtem completamente, se matem, desenvolvam doenças psicológicas, ou simplesmente rompam de vez com a realidade se tornando psicóticos?
Eu não daria mais que uma semana ou duas. Por que será que tantas pessoas introvertidas são deprimidas ou sofrem de transtornos mentais? Por que será, né?
Você já sentiu dor crônica? Eu rompi um ligamento há uns dez anos atrás e toda vez que o clima fica muito úmido ou a temperatura baixa rapidamente, eu sinto uma quantidade relativamente baixa de dor. Mas isso costuma durar alguns dias. Alguns dias sentido um pouco mais que um pouco de dor. Me estraga o humor. Fico meio triste, irritadiço, não consigo me concentrar, etc. Só alguns dias, nenhuma dor grave nem nada. Agora imagine este constante incômo que é o barulho, muitas vezes não tão baixo, durante TODA A SUA VIDA. Quem não enlouquece?
Não é possível viver uma vida silenciosa sem se isolar, mas é possível reduzir imensamente o barulho. Você pode achar que não, mas compare o ambiente silencioso (ou que se aproxima disso) que é a capital da Alemanha, com o caos que são as redondezas da estação Gare du Nord em Paris, ou com o centro ou Azenha da minha cidade, Porto Alegre.
Enquanto não for inventado um mecanismo de se ensurdecer melhor que as pálpebras nos cegam, faça um exercício de empatia, lembre-se da minoria (não tão minoria assim) que vive em constante sofrimento, e tente reduzir o barulho que você faz.




Postado por Ricardo Ceratti.

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