quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Uso das palavras

Quando se usa indiscriminadamente uma palavra, ela perde seu significado, ou, no mínimo, perde sua força.
Da mesma forma acontece quando ela é apropriada como forma de definir algo que não era seu significado original.
Um exemplo de ressinificação é o que aconteceu com a palavra "preconceito". Virou sinônimo de "não gostar", de "aversão", de "tratar mal". Vou explicar uma coisa: "preconceito" é ter um conceito sem conhecer. Se conhecemos algo ou alguém, podemos ter uma gama de sentimentos, atitudes ou reações, inclusive estas citadas anteriormente, que NÃO se constituirá em "preconceito"!
É na busca por uma forma de resistência que o mesmo conceito é utilizado por grupos em considerada desvantagem social (mais uma vez um termo utilizado incorretamente: "minorias" mesmo que, por exemplo, as mulheres já sejam mais de 50% da população), como é o caso da apropriação que já vem acontecendo há tempos dos termos que surgem da palavra "negro", bem como, mais recente, do termo "vadia".
Acho totalmente compreensível esta distorção do significado original quando se trata de uma forma de defesa, porém, a distorção por distorcer, que muitas vezes anda de mãos dadas com um sentimento de ranço e vitimização - aquele sentimento que não quer batalhar por um tratamento digno, e sim que clama o direito a ser digno de pena -, não passa de uma forma de estupidificar a língua.
Um mínimo de literatura nos mostra a distopia que este rumo leva, como se pode perceber com a "novilíngua" do livro 1984 de George Orwell. Ainda assim, a sensação é de que somos aquela bola que caiu no mar, e está pouco a pouco sendo arrastada pela correnteza cada vez mais para o fundo.
E o que talvez me seja mais chocante, e mais perturbador, é um caso do desfazimento da força de uma palavra 100% positiva.
É o caso da palavra "amor", que cada vez é utilizada mais levianamente, abrangendo uma gama de sentimentos (ou até vontade de ter tais sentimentos) de intensidade menor, usada como verbo que não combina com o objeto (direto ou indireto), e se tornando cada vez mais uma coisa pálida e desvalorizada.
Se nada está muito baixo, e nada está muito alto, como saberemos quando saímos do meio?




Postado por Ricardo Ceratti.

Nenhum comentário: