terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pensando

Eu penso demais.
Assim mesmo.
Não é aquela coisa de "na hora de tomar uma decisão, pensa demais e acaba indeciso" ou algo assim.
Isso também.
Mas não é disso que falo.
É de pensar. O. Tempo. Todo.
Estamos acostumados com a idéia de que aquela voz interna é pensar.
Não é.
Pensar é ponderar sobre algum assunto, refletir, analisar dados, levantar e testar hipóteses, chegar a conclusões, refazer conclusões, etc.
O "pensar" que falo aqui é uma atitude ativa, uma ação. Não é um mero processo vegetativo como respirar ou cantarolar aquela música maldita que não sai da cabeça. É algo que exige da mente, algo que cansa.
Este pensar, que é quase como ler, malhar, conversar. Tão ação quanto.
Então, eu penso este "pensar" demais.
O tempo todo.
Consegui o cúmulo do absurdo de ficar pensando em sonhos. Até dormindo!
Antes de mais nada quero esclarecer que não estou me gabando de nada. Não acho pensar o tempo todo algo necessariamente bom. Tampouco necessariamente ruim. Tem prós e contras, talvez seja neutro.
Por um lado é bem legal entender as coisas, fazer conexões, deduzir motivos ou o que acontecerá, até mesmo passar a enxergar coisas novas.
Não me leve a mal. É BEM legal isso. Não viveria sem.
Mas, por outro lado, é extremamente cansativo.
Afinal de contas, não é possível estar só pensando. Em algum momento, talvez. O tempo todo, jamais!
Em nenhuma idade, em nenhum tempo, em nenhuma civilização, em nenhuma classe social. Não creio que exista condições onde a pessoa possa se dedicar somente a pensar.
O que acontece é fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo.
Fácil de fazer enquanto comemos algo, vamos ao banheiro, tomamos um banho. Fácil também ao se fazer uma tarefa mecânica, apesar de já começar a complicar.
E o que acontece quando se precisa realizar uma tarefa que exija pensar SOBRE a tarefa?
Divide-se a cabeça, digamos assim. Acaba pensando sobre duas coisas ao mesmo tempo.
Aaaaah, mas nunca estou pensando somente sobre uma coisa.
Dois, três, quatro assuntos seria o normal. Alguns dias a curiosidade chega para jogar mais lenha na fogueira. Outros dias algum problema se impõe exigindo uma solução. Ou dois problemas. Três, quem sabe?
Esta multi-tarefa acaba acelerando a mente para dar conta, e aí começa o desgaste, o cansaço.
Alguns temas começam a ocupar muito espaço, e acabo forçado a fazer como se estivesse no Windows: preciso fechar uns programas, umas janelas, umas abas para dar conta.
O problema é que nem sempre existem pensamentos pouco relevante para serem descartados.
Algumas vezes os pensamentos são mais relevantes que outros processos.
E aí começa a complicar na vida "de fora".
Vou fechar a socialização, pois isto demanda muita energia e atenção.
As pessoas não entendem isso. Ou entendem muito errado.
Começam a perguntar se estou triste, se estou irritado, se fizeram algo, a se magoarem comigo por não querer conversar ou brincar, começam a insistir. E aí a idéia de fechar a socialização, como forma de economia, se perdeu, pois aí o gasto é em dobro para me explicar. E às vezes nem "convenço".
Vamos fechar então, a audição. Ah, quase tão problemático quanto. Alguém pode falar comigo, um carro pode buzinar para mim, ou posso perder qualquer outro som que ao qual eu deveria estar atento.
Visão então nem se fala.
Começa a ficar complicado escolher que processos descartar ou, ao menos, minimizar.
Sobrecarrega.
Fico, então, com vontade de descartar todos os pensamentos, por mais que esteja gostando deles, progredindo neles, ou chegando próximo de soluções.
Não dá. Simples assim.
E é aí que chega a parte que eu digo que isto pode ser uma maldição.
Não é nada legal ficar esgotado, não conseguir interagir com as pessoas, quase ser atropelado, não tomar uma atitude, não correr atrás de algo.
Por muito tempo busquei um "remédio" para isto.
Tentar controlar, forçar me distrair com coisas externas, ingerir bebidas alcoólicas mais do que deveria, tentar levar tudo com idiotice, não dar bola para nada, relevar tudo.
Nada funciona.
Algumas coisas até dão um pouco de resultado. Pequeno, temporário, e trazendo outros prejuízos que não me agradam.
Concluí que é uma sina.
Nem boa, nem ruim.
Boa e ruim.
Que é algo que eu preciso aprender a reduzir o quanto penso em certas ocasiões, a tentar minimizar danos, a buscar ambientes e pessoas que sejam compatíveis com esta maneira de ser. Bem como aprender a aproveitar para maximizar sua efetividade, reduzindo devaneios e sendo mais conclusivo (quem sabe, chegando a mais conclusões, um dia a quantidade de assuntos diminua?).
É aprender a lidar.
E torcer que as pessoas que eu gosto aprendam a lidar comigo. Se assim tiverem vontade (concordo que é mais fácil desistir de mim).




Postado por Ricardo Ceratti.

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