sábado, 17 de outubro de 2009

Educação "superior".

Chegando ao final do curso, chegando a hora do ENADE, terminando estágios, olhando para o futuro... olhando para a profissão a ser exercida. Com sorte, exercida por muitos anos.
Olho para o presente, vislumbro o que deverá ser meu futuro, e resolvo analisar o passado.
Admito, houve uma porção de coisas que eu poderia ter aproveitado melhor. Ainda assim, no caminho havia uma pedra. Uma gigantesca pedra chamada burocracia. E outra chamada má vontade. Não quero generalizar, existiram facilitações, bem como pessoas bem dispostas. Assim como existiram seres que iluminaram meu caminho, que me deram forças para que eu continuasse. Alguns nem devem saber do bem que me fizeram. Mas, feitos os cálculos, o que se sobressaiu foi a burocracia e má vontade mesmo.
Em alguns momentos cheguei a ter o irônico pensamento de que as pessoas gostavam demais de mim para permitirem que eu terminasse a jornada, ou não precisasse mais estar pendurado naquele balcão, os incomodando.
De qualquer forma, sobrevive-se.
Olhando para trás também percebi as matações de tempo.
Cadeiras inúteis, professores sem o menor preparo para dar aula (ou vontade... muito fácil encher os alunos de trabalhos a serem apresentados em aula, poupando assim o esforço de planejar as aulas a serem dadas), regras sem sentido prático, e, o pior de tudo, a perversidade de agir como se não hovesse mais o que aprender, sobrando tempo de aula.
Como assim, "sobrar tempo"? Como assim "não tem o que aprender"?
Me assusta isso, na verdade. Tive cadeiras nas quais as aulas foram ficando cada vez mais curtas com o passar do semestre. Tive aulas em que o professor se repetia numa freqüência insuportável. Tive aulas onde o silêncio permitiu a desordem, e a desordem serviu como desculpa para não ensinar.
Podemos entender a repetição, uma vez que alguns colegas se mostravam de uma inesperada incapacidade de absorver o que era ensinado e encontravam-se totalmente desprovidos de bom-senso para repetir pela centésima vez a mesma dúvida ao FINAL da aula, permitindo que todos outros alunos (os abençoados com uma capacidade de aprendizagem mínima) pudessem ter a tão esperada continuidade da aula.
Este, aliás, é outro aspecto triste. Um que outro que aprende muito rapidamente, a maioria com aprendizagem "normal", e um que outro que simplesmente não entende. E a aula ando no ritmo de quem? Pois é... tortura.
Bom, os outros mata-tempo eu, sinceramente, não consigo ver explicação.
Mas, não é só isso (nunca é...)! Cadeiras repetitivas! Algumas áreas do conhecimento tinham tanta carga ao longo do curso que simplesmente era uma sobreposição de muitos conhecimentos antigos com poucos novos.
E temos nossas eletivas, onde nos é requerido que aprendamos coisas de outros cursos. Quaisquer coisas! Sem o mínimo pré-requisito, cabimento ou relação. Não dá para ser algo da própria linha de conhecimento, para que eu me torne um profissional melhor? Não, nem pensar!
Ok, então. Agora eu coloco coisas de informática, saúde, escrita, línguas, SUS, etc. na minha carga de conhecimentos. Tudo muito legal, porém nem tanto interessante. Mais legal seria aprender mais sobre o curso que estou cursando! Mais legal seria aprender coisas que estão faltando nessa minha educação formal!
Quer algo mais? Vá atrás por conta própria! Com seu dinheiro próprio (de onde sai o tal do dinheiro é um mistério, já que não nos sobra lá muito tempo para um emprego e os estágios raramente pagam, e quando o fazem, são migalhas)!
Então, pé na porta, saidera.
E agora?
E agora, seu quase-psicólogo?
Vai se virar com aquelas duas ou três cadeiras da linha com a qual mais se identifica?
Vai sobreviver sem ter sequer ouvido falar sobre como separar o que é seu do que é do paciente/cliente?
Sabe cobrar?
Sabe bem a linha que seguirá?
Sabe bem as técnicas?
HEM? Como assim, "não"? Que diabos você fez nesses cinco (ou mais) anos??
Ah, tive uma formação generalista... se dependesse da faculdade eu seria uma espécie de clinico geral que entende um bocado de psicanálise (numa época BEM propícia para psicanálise, né?).
E daonde sai o conhecimento?
Sai da busca pessoal. De leituras, projetos, vivências paralelas. De correr atrás por conta.
Agora, eu pergunto: Se o que foi ensinado foi "matadinho" assim. Foram coisas que, em grande parte, poderiam ser aprendidas em casa, lendo bons livros (excessão disso são os estágios, que voto por um currículo com muito mais carga de estágios e menos carga de abobrinhas). Se a experiência veio da busca pessoal (sim, admito minha porção de culpa: me ofereceram o modelo mastigadinho e eu o engoli), alguém poderia me explicar o motivo de tanto dinheiro e tempo (e, especialmente, paciência) investidos?
Não é culpa nossa, são determinações do MEC (sempre se passa a bola pra quem está longe).
Olha, disso não entendo nada. Não sei quem determina o quê. Mas, se realmente são determinações do MEC, eu, novamente, questiono: O que o MEC sabe? É o seu MEC que está na sala, que tem que pegar presença, que faz provinha, que atura ouvir 10 vezes a mesma coisa, que está pagando e que vai trabalhar com isso? Não que eu saiba. Mas EU SOU! O seu MEC poderia pelo menos pedir minha opinião, na minha opinião...
Se realmente é do MEC que vem este formato, se estes são seus poderes supremos, então, lamento em dizer, mas o MEC é um velho gagá que não sabe de nada a respeito da realidade e das necessidades!

Lamentável... (curioso a respeito do ENADE)




Postado por Ricardo Ceratti.

Nenhum comentário: