segunda-feira, 14 de julho de 2008

Valores

Andei refletindo um pouco e percebi como valores errôneos estão inseridos profundamente em nossas tradições, costumes, enfim, em nosso cotidiano.
Motivações falsas. Falsas, me refiro no sentido de não nos serem próprias, originais, instintivas. Instinto praticamente já se tornou um completo estranho em nossas vidas, o que deveria ser algo natural acaba por nos surpreender quando é ouvido e "dá certo", de tanto que nos afastamos dele. Como eu estava dizendo, nossas motivações no geral vão contrárias a nossa natureza, muitas vezes, inclusive, contrárias à nossa saúde, à nossa felicidade.
Um exemplo que, creio todos já passaram por isso ou conhecem alguém que passou, é o dos pais que convencem os filos de que "em primeiro lugar o dinheiro, depois o prazer", como forma de dissuadir um recém formado no ensino médio a desistir de alguma escolha de ensino superior por "não dar dinheiro", motivando, por outro lado, a uma escolha mais estável, ou até, mais tradicional (e a palavra se repete). Por exemplo, que se desista da faculdade de música para cursar direito, odontologia, engenharia...
Não estou aqui defendendo que caiamos todos na "gandaia" nem nada disso. Mas não vejo como escolher um rumo profissional (que, neste caso, levaria meia década de estudos, em muitos casos altamente custosos, para, então, o ingresso em "ganhar dinheiro") que seja incongruente consigo, possa ser visto como certo. Ok, ganha menos. Ok, o mercado de trabalho é mais complicado ou menor. Mas e a felicidade de se fazer o que se gosta? Não conta?
Eis que entra o que eu considero do avesso. Não, não conta. Nossos valores colocam a escalada financeira acima da satisfação pessoal, da felicidade.
Não sou contra ganhar dinheiro, muito pelo contrário. Sou contra ser infeliz. Não acredito que exista casa no mundo, no país, estado, bairro que for, com o conforto que tenha, ou o carro, por mais moderno que seja, que irá compensar pela infelicidade (ou, "apenas" resignação) de ter de acordado todos os dias para ir fazer algo que não se gosta.
Agora que mostrei o que quis dizer, volto ao "inseridos profundamente". Os costumes da época, os amigos, os parantes, enfim, toda forma de influência, convenceram aqueles pais de que o dinheiro deva vir em primeiro lugar, e agora eles, por sua vez, exercem esta mesma influência para conseguirem convencer os filhos deste mesmo pensamento, desta mesma crença. Obviamente estes filhos serão alvos de outras formas de influência neste mesmo sentido, assim como seus pais, assim como os pais dos seus pais.
A inserção é tão profunda que, muitas vezes, nem se sabe o motivo daquele valor existir (o que, obviamente, não é o caso do exemplo). Uma professora minha uma vez contou uma história de uma moça bem sucedida, fazia determinada tarefa de um determinado jeito. Ao ser questionado do motivo para este jeito ela respondeu que sua mão fazia desta forma, assim como a mãe dela. Ou seja, é um costume, uma tradição. Ao investigar as gerações anteriores se descobriu que esta determinada forma era a única na qual a família, naquela época, havia condições financeiras de fazer a tal coisa.
Não se faz necessário dizer a moral da história, né?
Existem outros valores desta mesma categoria, uns eu já contestei ao longo de outros textos que escrevi aqui, outros, ainda não cheguei a me confrontar, e outros, admito, ainda não tive coragem de admitir contestar.
E é justamente ESSE o problema destes valores. Eles estão tão enterrados que se tornam quase incontestáveis. Criticá-los é ir contra o que se supõe como "certo", "verdadeiro" e, muitas vezes, "bom", no sentido de bondade mesmo. Muitas contestações são vistas como "falta de coração" ou sinônimos de maldade. Na verdade, percebo, trata-se apenas de um problema tanto de perspectiva, quanto de não refletir sobre determinado assunto por préconceito, pré conceito. Imutável.





Postado por Ricardo Ceratti.

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