segunda-feira, 11 de junho de 2007

As dificuldades na organização grupal.

Estava conversando com dois amigos meus e reparamos no funcionamento dos grupos de amizades. Como é do meu objeto de pesquisa resolvi pensar à respeito e escrever mais um artigo aqui, espero que gostem.
Observei que os indivíduos que compõe o grupo parecem fugir a todo custo da responsabilidade de tomar alguma decisão. Mesmo que a decisão seja algo do interesse de cada indivíduo do grupo. Se as pessoas querem sair para fazer alguma festa, por exemplo, ninguém decide onde ir e todos tentam passar a responsabilidade da escolha para o próximo. Quando, finalmente, alguém toma a liderança! Propõe algum lugar e de imediato as pessoas respondem à esta liderança emergente. Alguns concordam de imediato sem sequer analisar prós e contras, outros pelo contrário, se opõe vigorosamente, e alguma parte do grupo se abstêm a qualquer forma de tomada de decisões (dizendo os tradicionais "pra mim tanto faz").
E eis que surge o grande impecilho, pois é neste momento que o andamento poderá ser variado.
Um grupo no qual todos concordam pode gerar uma felicidade por terem decidido os planos da noite, mas assim que o primeiro problema surge as reclamações e culpa recaem sobre o lider recém-formado. É culpa do líder os gastos feitos, o tempo que perderam para chegar, se a festa não estava tão boa, se as músicas não agradaram, se os objetivos da noite não foram cumprido, etc. Ou seja, mesmo ninguém tendo proposto algo melhor, mesmo que alguns fatores, como a música e o preço, sejam de responsabilidade de terceiros, mesmo que possa até mesmo ser culpa de cada indivíduo (por exemplo se o objetivo da noite era arranjar para 'ficar' e, este não buscou com dedicação que isto se sucedesse), ainda assim, a culpa é toda do líder.
Um grupo que a maioria se opõe ao líder pode acabar rapidamente se debandando, devido à dificuldade em chegarem a um consenso. Este caso pode ser o mais complicado para um líder, pois ele deve ao mesmo tempo criar sugestões, manter a atenção das pessoas, convencer e ser rápido ao realizar todas estas tarefas.
Talvez o grupo mais fácil de lidar seja o grupo dos sem decisões. Este tipo de grupo aceita quase qualquer sugestão e tem uma tendência muito menor a encontrar problemas ou culpabilizar o líder por estes. Este grupo conta ou com uma grande disposição que algo (sem importar muito com o 'quê') seja feito, ou com alguma vantagem no grupo em si (em geral é relacionada ao líder esta 'exploração').
Como podemos observar, a posição de líder grupal é altamente frustrante (mesmo tendo seus raros momentos de glória quando, por exemplo, as pessoas se encantam pelo luagr novo apresentado pelo líder), me levando a concluir que talvez este seja o motivo pelo qual o grupo no geral foge desta posição. Porém logo que ocorre um evento de liderança funcional (exceto aquele na qual o grupo debanda), o grupo passa a depender do líder em outras ocasiões e, muitas vezes, este líder nem se dá conta de que as responsabilidades sempre lhe recaem.
Logo acreditei ter chegado a uma brilhante conclusão: ninguém sendo líder. Impossível. Talvez entre duas ou três pessoas seja possível, já em grupos maiores isso não me pareceu realista. Ou uma nova liderança surge, ou o grupo se rompe em pequenos grupos 'manejáveis' ou este grupo simplesmente fica aguardando o retorno do líder ou o surgimento de um novo líder.
Com esta observação pude confirmar a existência de alguns conceitos de Bion sobre os grupos de pressupostos básicos.
Vemos um grupo no estado de dependência, isto é, um grupo que depende de um líder que tome as decisões e resolva os problemas. Segundo Bion para este grupo "existe um objeto externo cuja função é fornecer segurança para o organismo imaturo".
Por sua vez, o segundo tipo de grupo (no qual exsite oposição à figura do líder) encontra-se em luta-fuga, na qual o grupo encontra um inimigo comum ou simplesmente 'foge'. Neste caso o grupo se volta contra o próprio líder (não sendo líder neste caso, e sim fazendo então o papel de bode expiatório, aquele contra o qual devem lutar).
Por fim, na falta de um líder, pode ocorrer um fenômeno de acasalamento, no qual o grupo fica aguardando uma pessoa ou idéia, com uma espernça messiânica de que este salvará o grupo.
Como, então, pensando à luz das teorias de Bion, podemos chegar no chamado 'grupo de trabalho', o qual o grupo se dedica a um objetivo em comum, que tem como função o bem do grupo (e não o bem individual em detrimento do bem-estar grupal). Como seria possível que o grupo do exemplo (decidir uma festa) trabalhe com todos seus indivíduos colaborando entre si, buscando a solução sem esperar dependentemente?
Continuarei a observar os comportamentos dos grupos com o fim de concluir se existe grupo que consiga alcançar esse 'status' ou se alguma solução deve ser criada para motivar o grupo no todo a buscar soluções.


Por Ricardo Ceratti.

Um comentário:

Anônimo disse...

bom comeco