quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Enfraquecido

Lento.
Cada vez mais lento.
Dificuldade de sair da cama.
Lerdeza pra lavar o rosto, pra comer algo, pra se vestir, pra caminhar, pra trabalhar, para interagir com as pessoas, para entender sutilezas, para pensar.
Até o coração parece bater mais devagar. Parece já sem animo de fazê-lo. Um fardo, uma obrigação. Como um emprego em que se vai, como um zumbi, esperando apenas o fim do expediente, da semana, do mês, da vida... Batendo apenas no aguardo da hora que seja dito "deu, pode parar já".
Banhos quentes em dias quentes. Um friso de aconchego nessa sensação de desconexão de tudo e todos.
Sensação de morto por dentro. Já não tem sonhos, já não se empolga, já não almeja.
Vontades contraditórias perturbando a alma.
Desejo de dormir. Só dormir. Sem hora pra acordar. Sem dia pra acordar. Sem acordar. Só dormir.
Por outro lado aquele fiapo de inconformismo que grita, já sem voz, um "mexa-se!". Que tenta sacudir, que tenta acender um fósforo numa geleira, na esperança de iniciar um incêndio.
Aquele desespero por sumir, estar sozinho, não ver mais pessoas, carros, postes, fios, semáforos, casas... Por não ouvir barulho algum, ser surdo, nem que seja por uns dias. Sem nada. Sem luz, sem movimento, sem sons, sem grandes cheiros, sem toque. Sem toque algum.
Refletido nisso está o desejo de ter amigos próximos, de ganhar colo, de namorar, de conversar com as pessoas, de trocar abraços, de falar e ouvir bobagens.
Amanhã é sexta. Não vou precisar conviver com ninguém por uns dias.
Amanhã é sexta. Não vai ser tão simples poder conviver com alguém por uns dias.
Um dia para segurar as lágrimas. Logo o dia acaba. Quem sabe amanhã elas não sintam toda essa necessidade de diáspora.
A cabeça doendo de tanto ouvir o grito das lágrimas aprisionadas.
E esse grito infinito, que se encontra aprisionado no peito? Aprisionado pelo receio que sua infinidade, se liberta, causará desintegração completa. Receio misturado com esperança que seja o caso...
Letargia maldita! Tantos e mais tantos abandonos, mas logo a letargia resolve ser fiel companheira.
E essa gravidade que está cada vez mais pesada?




Postado por Ricardo Ceratti.

Um comentário:

Zaica disse...

A ambiguidade da vida nos mata aos poucos enquanto tentamos encontrar ao menos um motivo pra viver...