segunda-feira, 9 de julho de 2007

Descartáveis Solúveis

Como todos sabemos, o mundo está cada vez mais se aproximando de um lugar inabitável. Cada vez mais criamos mais lixo e não cuidamos com o destino dele. Sabemos como e porque reaproveitar o que é reaproveitável, mas pouco é feito quanto a isso.

Talvez o maior perigo para a espécie humana tenha sido a invenção do plástico. Este material feito através de vários processos. Processos estes que deixam resíduos e consomem por ano quantias imagináveis de petróleo.

Quando dizemos que vamos comprar algo falamos como: “Vou comprar água mineral”ou dizemos “Bah, véio! Vô ali no super comprá uma garrafinha de água mineral!”? Os produtos precisam de embalagens para serem comercializados. Essas embalagens quase sempre são descartáveis.

O termo descartável inevitavelmente nos leva a palavra descartar, que remete ao significado de deixar de usar e ter. O tempo do processo de fabricação dos produtos descartáveis é igual ou muito parecido com o tempo que se leva pra descartar este produto.

Talvez a facilidade de fabricação e o tempo que é gasto para o descarte seja a principal variável pra que essa prática seja tão usada.
Agora pensamos na situação que os relacionamentos acontecem atualmente. Um paralelo pode ser facilmente traçado entre as relações sociais e os produtos descartáveis – é quase que redundantes estas duas questões -.

Em menos de cinco minutos compramos um salgadinho e consumimos o que há dentro da embalagem. Em cinco minutos conhecemos mais uma pessoa e já nos despedimos dela. Adquirimos um produto e uma amizade já pensando na sua finitude. Os namoros e casamentos têm durado muito menos do que na época em que a conquista era mais difícil de ser alcançada. Existiam mais floreios, mais caminhos e muito mais romantismo envolvido no processo de conquista da pessoa desejada. Talvez esse trabalho que era preciso ser feito dava a idéia às pessoas de que se foi difícil de ser conquistado, também deveria ser bem cuidado depois de conquistado.

Pensava-se em namorar, noivar, casar, ter uma fonte de renda estável - que desse o sustento suficiente - , uma casa e também ter filhos com o sobrenome do pai. Hoje até se pensa em namorar, porém, os outros processos são bem mais difíceis de acontecer. Penso que isso se deve ao fato do seguinte pensamento: “Se não der certo, não deu. A vida continua e outras pessoas entrarão na minha vida”. Por um lado, isso é muito saudável a saúde mental, por outro, penso que poderia ser bem diferente se as pessoas começassem e não pensassem num possível fim.

As pessoas não mais se dispunham tanto em trabalhar pra uma “eternidade”. Parece-me que é muito difícil ceder, se sensibilizar com o outro, pensar que não existe somente o próprio lado da moeda. Acredito que isso acontece pelo fato de que: “se vai acabar, porque eu vou lutar e arriscar pra que isso dure?”. É muito mais cômodo ficar de braços cruzados, sem fazer nada do que acreditar que pode dar certo e lutar pra isso. Marcelo Camelo já disse: “(...)é a solução de quem não quer perder aquilo que já tem e fecha a mão pro que há de vir”.

Enquanto a pessoa for útil – como a garrafa de plástico -, ela está nas nossas vidas, depois que ela não mais satisfaz as minhas necessidades e anseios, ela deixa de existir sem pensar nas conseqüências que o descarte ocasiona. “(...)que seja infinito enquanto dure” - Vinicius de Moraes -.

"O mundo e o coração – de quem sente e luta – chora pedindo ajuda".

Por Ivan Pielke

2 comentários:

Unknown disse...

uma leitura a indicar: "Não verás país nenhum" o nome do autor? Ignácio de Loyola Brandão. Tremendo subversivo (na época em que sê-lo ainda era alguma coisa).



p.s: pode parecer um comentário "nada a ver", mas é porque a leitura muito tem a ver com o texto publicado.

:)

beijo.

Anônimo disse...

esse é um dos teus melhores textps que eu já li.
bem simples, direto.
talvez essa teoria seja certa mesmo.
vou pensar a respeito disso.

brijos ivan.