Antes de mais nada quero deixar bem claro algumas coisas.
Eu só posso falar do que EU presenciei, e só posso acreditar naquilo que EU vi. Cada um tem seu ponto de vista, e o ponto de vista de TODO MUNDO é incompleto.
Vi de tudo hoje. Coisas admiráveis e coisas vergonhosas dos dois lados.
Eu só posso falar do que EU presenciei, e só posso acreditar naquilo que EU vi. Cada um tem seu ponto de vista, e o ponto de vista de TODO MUNDO é incompleto.
Vi de tudo hoje. Coisas admiráveis e coisas vergonhosas dos dois lados.
Quero explicar que minha “porta-voz”, a Renata, repassou por
mim (ainda nem li nada) o que eu narrava para ela. Foi num momento em que vi
muita baderna acontecendo, e foi exatamente isso que contei para ela. Depois,
após tantas fotos, vídeos e mensagens, a memória do meu celular simplesmente
foi pro saco. Tive que ficar meio de longe para me concentrar um pouco em
deletar músicas e sms. Após isso ela já tinha ido dormir. Após isso também vi
muita coisa louvável do povo, e que acabou que não tive quem falasse por mim
até eu chegar em casa. Acredito que possa ter parecido que eu estava com uma
visão peleguista. Não é o caso. Repito, só conto o que EU presenciei, seja a
favor da polícia, ou a favor do povo.
Então lá vamos nós.
O protesto estava LINDO. Só consegui chegar uma hora depois,
e me juntei ao movimento na Salgado Filho com a Borges. Tinha uma dúzia de PM
apé e uma dúzia a cavalo marcando a linha de fundos da passeata. Todos estavam
pacíficos, cantando músicas de movimento, estendendo seus cartazes, tirando
fotos, etc. Muita gente dava apoio das janelas de suas casas, jogando papel
picado, estendendo panos brancos, batendo palmas. A coisa estava no caminho
certo e tínhamos a aprovação unânime da população.
Tudo foi tranqüilo até chegarmos na Ipiranga, quando
finalmente alcancei o que devia ser mais ou menos os 20 ou 30% da linha de
frente do movimento. Fiquei em dúvida para onde iríamos, pois não me informei o
suficiente e, até onde eu sei, neste tipo de manifestação é combinada uma rota
a ser seguida com a polícia. Tinha muita gente ainda vindo no sentido
centro-bairro pela João Pessoa, a
maioria parou no meio da rua, na esquina da Azenha com Ipiranga, e um pequeno
bolo rumou na direção oeste, para o lado da RBS. Neste momento houve pânico,
quando tropas a cavalo atravessaram a Ipiranga, perto de onde estávamos.
Acredito que todos tememos que viria truculência, mas não foi o caso. Me
aproximei, apesar do medo, e vi que o vidro (que é a parede) da Estação H
(revenda da Honda) tinha sido estraçalhado, e a polícia foi meramente se
posicionar para defender a loja. Se por falta de informação, por ódio, ou
meramente por querer baderna, muita gente começou a vaiar, alguns atiraram
pedra na polícia, uns foram tentar conversar com os PM, e algumas pessoas
gritavam que a polícia só servia para defender as lojas. Neste ponto me
posicionei, falando que a loja não tinha nada a ver com o protesto, e todos
gostaríamos de uma atitude similar da polícia se fossem com nossas casas ou
pontos de comércio.
Vi ao longe uma movimentação da polícia aproximadamente da
RBS, e um tempo depois vi, quase simultaneamente, bombas de gás sendo lançadas
contra as pessoas que estavam do lado da rua no sentido Oeste-Leste (do lado da
rua da RBS e da estação H), assim como vi gente, deste mesmo lado, destruindo
os “guard-rail” da ciclovia. Do outro lado da rua o protesto seguia pacífico de
ambos lados. Inclusive teve gente, como eu, que gritavam para não destruírem as
coisas e não vandalizar. Um tempo depois me afastei e vi ao longe que a polícia
estava avançando na direção de empurrar as pessoas devolta para a Azenha, e
mais um tempo depois começaram a voar bombas de gás no lado pacífico da rua.
Neste ponto confesso que não entendi. Os mais enraivecidos dizem que a polícia
foi ignorante quando se aproximaram da RBS, e aí que tudo descambou. Não sei,
não vi. Quando rolaram bombas do lado pacífico, eu, muito animal, fui pra
perto, ver o que estava acontecendo. Com os olhos ardendo e tendo que chutar
bombas para longe, vi que tinha gente subindo a Lima e Silva e derrubando,
quebrando e queimando lixeiras. Voltei com receio pois começaram a jogar muitas
bombas ali, e, sem conseguir enxergar direito, fiquei com medo que o avanço dos
PM, incluindo cavalaria, estaria mais rápido ou próximo que eu daria conta de
recuar.
A polícia eventualmente conteve todos de volta para o
cruzamento com a Azenha, enquanto boa parte da manifestação estava na João
Pessoa, MUITA gente ainda estava no cruzamento com a Gerônimo D’Ornelas, e fiquei
sabendo que estava rolando algo na própria Lima e Silva (e depois soube que
tinha choque na Loureiro também). Com medo da polícia, recuei até metade da
quadra na direção da João Pessoa, ainda pela Ipiranga. Voltei para ver o que
estava acontecendo, e novamente começou a chover bombas. Comecei a recuar e uma
bomba caiu do meu lado, me deixando meio desnorteado e sem conseguir enxergar
quase nada. Desci as pressas quase rolando para a parte baixa do dilúvio. Um
pessoal que estava no cruzamento da Azenha gritava para mim tentando me mostrar
o caminho. Pedi que esperassem eu me recuperar, e depois fui para junto deles.
Fui com muito medo, pois tinha muitos BM (que depois entendi que a função era
para conter curiosos apenas), tinham viaturas (que vi prendendo algumas
pessoas, jogando elas no porta-malas da caminhonete), e tinha cavalaria. Achei
que iam me trucidar por estar ali. Muito pelo contrário. Os policiais de conter
curiosos só diziam para não chegarmos mais perto (nos mantendo a uns 10m da
cavalaria), sendo bem educados e não agredindo ninguém.
Eu queria saber o que estava acontecendo nos outros lugares, mas também queria saber o que estava acontecendo ali. Na direção da Gerônimo eu pude ver que levantavam uma fogueira (não conseguia ver se era no chão ou em algum ônibus...depois vi que era em lixeiras), e sacudiam um ônibus parado. Talvez por curiosidade, talvez por medo mesmo, ou talvez por não querer me juntar ao pessoal que estava depredando um ônibus (o que eu não concordo), fiquei por ali, junto dos policiais, filmando prisões, avançando com eles para poder filmar as inúmeras lixeiras tombadas e queimadas (que num certo ponto eu desisti de fotografar). Quem passou trabalho neste dia foram os bombeiros. Não os vi parando um instante.
Chegando perto da Venâncio Aires, vi um ônibus COMPLETAMENTE destruído, coisa que também não concordo para um protesto pacífico. Também vi a Secretaria de Segurança completamente aniquilada, com porta inteiramente quebrada (era de vidro), bancos amontoados, pedaços para todos os lados. Como eu queria ir no posto de gasolina comprar alguma coisa, fiquei perto da Venâncio por um tempo. Vendo que ia demorar, voltei e fui pela Lima. Mas uma vez um rastro de lixeiras tombadas e pegando fogo. Vi algumas pessoas pedindo “sem violência” para os próprios manifestantes, pessoas dizendo para não destruírem com tudo, tentando argumentar com os mais caóticos (e quase apanhando por isso), vi gente sendo debochada por levantar e apagar fogo de lixeiras, enfim... vi muita gente de bem, querendo manter a ordem do protesto. Vi claramente que não era a maioria que queria instaurar o caos. Infelizmente a maioria perdeu.
Eu queria saber o que estava acontecendo nos outros lugares, mas também queria saber o que estava acontecendo ali. Na direção da Gerônimo eu pude ver que levantavam uma fogueira (não conseguia ver se era no chão ou em algum ônibus...depois vi que era em lixeiras), e sacudiam um ônibus parado. Talvez por curiosidade, talvez por medo mesmo, ou talvez por não querer me juntar ao pessoal que estava depredando um ônibus (o que eu não concordo), fiquei por ali, junto dos policiais, filmando prisões, avançando com eles para poder filmar as inúmeras lixeiras tombadas e queimadas (que num certo ponto eu desisti de fotografar). Quem passou trabalho neste dia foram os bombeiros. Não os vi parando um instante.
Chegando perto da Venâncio Aires, vi um ônibus COMPLETAMENTE destruído, coisa que também não concordo para um protesto pacífico. Também vi a Secretaria de Segurança completamente aniquilada, com porta inteiramente quebrada (era de vidro), bancos amontoados, pedaços para todos os lados. Como eu queria ir no posto de gasolina comprar alguma coisa, fiquei perto da Venâncio por um tempo. Vendo que ia demorar, voltei e fui pela Lima. Mas uma vez um rastro de lixeiras tombadas e pegando fogo. Vi algumas pessoas pedindo “sem violência” para os próprios manifestantes, pessoas dizendo para não destruírem com tudo, tentando argumentar com os mais caóticos (e quase apanhando por isso), vi gente sendo debochada por levantar e apagar fogo de lixeiras, enfim... vi muita gente de bem, querendo manter a ordem do protesto. Vi claramente que não era a maioria que queria instaurar o caos. Infelizmente a maioria perdeu.
Chegando na Loreiro, tarde, acho eu, tinha uma multidão
ocupando a rua, descansando, comprando uma cervejinha, um cigarro, fechando
seus baseados. O único incidente tinha sido um suposto atropelamento por parte
de uma taxista. Um grupo de umas 30 pessoas estava em volta de um táxi do
aeroporto, enquanto a motorista, ao que me pareceu, tentava achar uma solução,
ao mesmo tempo que parte queria acabar com ela e seu idoso passageiro, e, do
outro lado, um grupo tentava dizendo que ninguém tinha se machucada, e
deveríamos deixar ela ir embora. Neste meio tempo xingaram a taxista,
esvaziaram os pneus do carro, sacudiram o carro, brigaram (só bate-boca, nada
físico) com os que defendiam a extradição da motorista. Só sei que eu não
queria ser nem aquela taxista, nem aquele senhor idoso. Sei também que os que
se diziam vítimas estavam sem nenhum ferimento aparente. Inclusive os
questionei sobre isso, e recebi um “de que lado tu está?”, quando eu retruquei
que não sabia que existiam lados, e achava que o objetivo do protesto era algo
muito mais interessante que acabar com uma taxista (uma vez que a turma do
“deixa-disso” já tinha sugerido “pega a placa e deixa ela ir”). Não sei o que
estava acontecendo pro lado da João Pessoa, só sei que alguns começaram a
tentar inflar a idéia de irmos para a Câmara. Nisso, da direção da João Pessoa,
a cavalaria começa a vir com velocidade e tocando bomba. Esta ação,
sinceramente, me pareceu completamente desnecessária. Não sei se queriam
meramente abrir caminho na marra (afinal subindo pro centro vi muita merda
rolando), ou se estavam só sendo ignorantes mesmo. Tivemos que sair correndo,
uns subindo a José do Patrocínio, outros indo na direção do Açorianos. Nessa
hora tive que correr de verdade, pois achei que seria atropelado pela polícia
montada.
Após minha fuga, notei um movimento na direção do centro, e
subi a Borges. Lixeiras e mais lixeiras em barricadas incandescentes pela rua,
um carro com os vidros completamente quebrados, além das inúmeras pichações e
focos de fogo espalhados pela rua. Neste momento vi que eu não era o único a
discordar dos rumos do movimento. A população, que antes nos saudava, agora nos
vaiavam, jogavam garrafas com água na tentativa de apagar os fogos, e voavam
algumas garrafas. Este seria um bom indício que a coisa já tinha ido longe de
mais, na minha opinião. Não bastou.
Quando me aproximei do cruzamento com a Riachuelo, vi a polícia
atravessando na parte elevada do viaduto. Cavalos e mais cavalos num movimento
que me pareceu de cercar os manifestantes. Na Riachuelo vi o povo recuando
(estavam na direção da praça Matriz). Mais uma vez, o animal aqui avançou
quando todos recuavam. No caminho vi bancos, orelhões, lojas depredados. A população xingava os manifestantes de suas
janelas. Rolavam bate-bocas que se estenderiam. Muita gente tentava apagar os
fogos e conter os ânimos, mas enquanto ficavam atrás tentando conter danos, o
povo da baderna avançava destruindo mais e mais. No final da rua a cavalaria
chegou, e avançou. Tive que sair correndo e dizer para um cara que estava
começando fogo, assim como para uma moça que estava apagando um fogo (ironias
da vida) “corre que a cavalaria ta vindo”. Corri em pânico, atravessando a
Borges e dando a volta. Agora eu estava naquela parte elevada (que nunca sei o
nome) por onde eu tinha avistado antes a cavalaria passar. As pessoas estavam
dispersas e os números estavam muito reduzidos. Neste momento me pareceu
bastante que ali só tinha o pessoal da baderna. Parei naquele lugar lindo, no
alto da Borges, onde podia se enxergar a mesma ao longe, e vi uma cena muito
triste de um lado, onde a rua estava vazia, com lixeiras pegando fogo e carros
soavam alarme, e de outro, uma cena questionável, onde estavam gritando de cima
xingamentos a polícia que passava por baixo, clamando que não eram vagabundos,
que trabalhavam (confesso ter tido a impressão de que alguns diziam que a
polícia ali só estava fazendo seu trabalho... não sei se entendi errado). Neste
momento conversei com algumas pessoas, com medo do que eu ia dizer, já que em
alguns momentos parecia que quem não era a favor da depredação, era inimigo.
Por sorte encontrei uns rapazes mais ou menos da minha idade que pensavam o
mesmo que eu. Que o pessoal tinha exagerado, que precisávamos nos definir, se
era protesto pacífico, ou quebra-pau, que meio a meio não dá certo, e que não
acham que esta seja a hora de partir para a ignorância.
Perambulei mais um pouco pelo centro, e tudo que vi foi
pessoas fora do movimento na rua com olhares decepcionados, pessoas de suas
casas batendo boca com manifestantes, e manifestantes que destruíam tudo que se
encontrava em seu caminho.
Decepcionado com o que eu estava vendo, voltei para casa.
O que eu concluí, ao menos até agora disso tudo:
Do ponto que eu vi, ambos lados estavam se excedendo, mas o
lado agressivo do movimento foi mais sem razão. Se eu ver filmagens de quem
estava na RBS (o considerado começo de tudo, quando supostamente a polícia
partiu para a ignorância com medo que encostassem na RBS) de que realmente a
polícia começou, ok, vou em entender a indignação das pessoas. Porém, até o
presente momento, não penso que isto justifique sair destruindo tudo... não só
patrimônio da cidade, mas também de empresas e até de particulares (que culpa
tem quem deu o azar de deixar seu carro estacionado na rua?). Claro que é fácil
pensar assim não tendo sido tão cercado de bombas, nem tendo apanhado (até o
momento não sei de balas de borracha nem de gente que apanhou, apesar de que
bombas não faltaram).
Sei também que o movimento é legítimo e a sua maioria não
estava participando do vandalismo. Chuto (é puramente chute) que uns 15%
estavam por quebrar tudo, uns 15% estavam por colocar razão na cabeça das
pessoas e amenizar danos, e o resto estava perdido, só querendo seguir o que
tinha sido planejado (uma caminhada para mostrar indignação, e nada mais).
Se existem policiais infiltrados que começaram a guerra,
também não sei. Vi sim o vídeo do policial que quebra o vidro de sua própria
viatura. Mas não posso falar nada além de mera especulação vazia se o estopim
foi dos manifestantes ou de PMS disfarçados de manifestantes (apesar de eu ter
achado estranho um carro civil passando com um fardado dentro).
Confesso que, assim como a violência policial em São Paulo
motivou muita gente a participar dos movimentos, a imensa violência de PARTE da
população hoje ME fez repensar se quero fazer parte deste movimento.
O meu ponto de vista é, e sempre será de que não devemos
perder a razão e o apoio do povo. Devemos deixar o governo ou a polícia (neste
caso representando o governo) perder a razão, e mostrar para o mundo como eles
estão fora dos limites. E NÃO nós perdermos a razão e o apoio, e sairmos dos
limites.
Acredito SIM que existem motivos infinitos para se revoltar
e se manifestar. Acredito que a manifestação é um DIREITO e que temos o DEVER
de colocar ordem neste nosso país com sua corrupção, sua segurança, educação e
saúde de LIXO, com impostos e mais impostos, com transporte sem qualidade, com
grandes empresas pintando e bordando desde que dêem banho de dinheiro nos
nossos governantes, com políticos se dando salários, verbas disso e daquilo, e
décimos-terceiro-quarto-quinto salários a perder de vista (a função é nos
representar e melhorar o país ou enriquecer?), com estatutos do nascituro
tirando liberdades femininas, com leis para proibir manifestações, ou terminar
investigações de corrupção em pizza, com mídia pelega, com castração de
direitos de liberdade de expressão e de ir e vir, enfim, com esse cerceamento
completo dos direitos dos cidadãos e encaminhamento para uma ditadura. Só não
acho coerente quebrar tudo, e, quando a polícia vem para cima, berrar que isto
é um ato ditatorial. Gente, por favor, tanta coisa errada, pra quê brigar pelas
causas erradas e ser propagador de MAIS coisas erradas?
Acredito, também, que manifestação violenta É justificada.
Só não acho que seja o momento. Por mais cansados que estejamos com toda essa palhaçada,
e por mais que existam manifestações há anos, só agora que começou a haver
manifestações expressivas e organizadas. Dava para tentar mais um punhado ou
dois de manifestações pacíficas, aproveitando os olhares internacionais como
forma de constranger nossos governantes, ANTES de partir para uma guerra civil,
não acham?
Esta é a MINHA opinião, com base no que EU acredito e no que
EU pude ver. Sintam-se livres para discordar, afinal de contas, todo mundo tem
direito a ter sua opinião.
Postado por Ricardo Ceratti.
Nenhum comentário:
Postar um comentário