Mais um dia amanhece.
Tanta tranqüilidade que logo será bruscamente interrompida por nós, humanos.
Pessoas.
Pessoas por toda parte.
Pessoas com pressa.
Pressa de alcançar seus objetivos. Pressa sem ter objetivos. Pressa sem saber que objetivos alguém lhes escolheu. Pressa por pressa. Pressa por não saber outra forma de viver. Pressa de existir e de cessa de existir.
Logo as pombas tomam a cidade.
Os ratos alados.
Os ratos de quatro patas.
Os ratos que andam em duas patas.
Ratos bem ou mal intencionados. Ratos.
A cidade é a mãe de todos os ratos. Dela surgem, a ela alimentam.
O que tanto te dói, Ricardo?
A humanidade. A humanidade me dói.
Ver pessoas boas sofrerem para que pessoas más se favoreçam enquanto pessoas que deveriam ser justas olham para o lado.
Ver o preço da impunidade. Ver as leis que criamos. As leis que escolhemos obedecer. As leis cujo descumprimento se escolhe punir. As leis... piada que nunca perde a graça por sua ironia. As leis, tão corretas, imparciais, constantes, universais... piada. Cumpri-las ou não cumpri-las, o resultado vai mais da sorte. Sorte ou azar se alguém viu. Se viu e resolveu fazer algo a respeito. Ou se avisou alguma autoridade. Se a autoridade quis fazer algo a respeito. Ou preferiu olhar para o lado, fingir que nada está acontecendo. Por não querer arriscar a própria vida, por não querer se dar ao trabalho, por estar tão acostumado a ver o que há de mais podre no mundo que acaba achando que este evento é insignificante.
Leis...
A lei de se convencer de que nada acontece. De que tudo está bem. Nada está errado. De se convencer que as coisas estão certas, de que não precisa mudar nada (ao menos nada de importante, de muito grande ou trabalhoso), de que se está feliz, de que tudo anda bem com o mundo.
E lá vai o exército de pessoas. Nos ônibus, com seus carros, com seus passos apressados, com sua pressa, com seus objetivos, com sua individualidade. Individual em grupo. Cada um finge estar sozinho no mundo enquanto louva a vida em sociedade.
Cada pessoa com seus planos. Umas planejando ajudar alguém. Umas planejando fazer alguma maldade. Umas planejando injustiças. Uma planejando corrigir injustiças. Umas planejando se aproveitar das injustiças. A maioria querendo apenas viver sua vidinha, torcendo apenas para que hoje seja melhor que ontem. Para que hoje nada de ruim lhes aconteça e, de preferência consigam algum benefício além do esperado. Pouco importa quem terá que arcar com o prejuízo de tal benefício. Pouco importa se uma boa pessoa pagar o preço pela vantagem de uma má pessoa. Pouco importa que ninguém faça nada a respeito. Pouco importa que uma pessoa, em busca de algum lucro, fira outra pessoa diretamente. Pouco importa se acabar ferindo indiretamente outras pessoas. Pouco importa iniciar uma reação em cadeia de desgraça e sofrimento. Pouco importa! Só importa meu lucro.
Pouco importam as pessoas. Pouco importa tudo. Só eu importo. Só eu tenho meus anseios, meus sonhos, minhas necessidades...
Cada um olhando para si como sendo o centro do universo, a razão pela qual o mundo existe.
E, enquanto faz isso com extrema habilidade, aproveita para desviar o olhar do outro. Aproveita para cegar a si próprio de tudo que há de errado.
Importa fingir que tudo está bem.
Está tudo bem.
Está tudo tão bem quanto sempre esteve. E tão bem quanto sempre estará.
Fique tranqüilo e não faça nada. Confie em sua capacidade de ignorar os problemas que este é o caminho para fingir que estes não o incomodam, tendo assim uma vida tão feliz quanto possível de convencer a si próprio.
Postado por alguém muito decepcionado com a humanidade. Postado por Ricardo Ceratti.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
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