domingo, 30 de agosto de 2009

Carne.

Carne, ossos, órgãos e, enfim, pele.
Não vamos muito além disto.
Insignificante, não?
Pois demos um jeito de criar significados. Inventamos coisas, sentimentos, artes, objetivos, enfim, inventamos até palavras para chamar nossas invenções significantes.
Porém, com o passar do tempo as invenções cessaram de bastar e abastar-nos. Tratamos de inventar novos significados para nossas vidas. Nossas vazias vidas. Porém, nossa criatividade encontrou barreiras e, conforme nossa espécie ia se deparando com barreiras de criatividade, as chances de solucionadores de segunda serem exaltados aumentava. Tais solucionadores, que se propagavam na mesma velocidade que suas criações eram copiáveis, fáceis ou faltosas, acabaram por desenvolver invenções cada vez mais banais, superficiais.
Até q justamente, o que era erro virou acerto, e ser banal virou moda.
O que carne, ossos, órgãos e pele construíram para darem algum sentido pra suas vazias existências, agora estava sendo desconstruído.
A falta de sentido é o sentido.
A falta de originalidade é a originalidade.
A destruição dos valores é a edificação do indivíduo.
A busca por soluções imediatas, que, após o imediatismo deixam de ser soluções. As soluções que sentem-se à vontade de devolver, ao partirem, tudo que tomaram no momento de sua chegada.
Pôs-se, então, a reclamar. Reclamar da falta de recompensas ofertadas pela vida. Reclamar que nada muda, mesmo quando tudo muda. Reclamar das incertezas, da falta de propósito, do vazio...
Carne, ossos, órgãos, pele. Brinquedo. Solidão.
Não sou contra a criação de significados, nem a busca por inovações.
Sou contra a pressa, o desespero pelo surgimento de coisas novas. Pelo atropelamento que não permite que nada se estabeleça, crie raízes, que se desenvolva apropriadamente.
Que esta criação deformada acabe tomando lugar de onde poderiam nascer lindas criações. Abafe o ar e a terra que poderiam gerar sentidos solidificantes.
Abafe a alma. E cegue a alma! Tornam-na míope. Castram, com sua pressa por encontrar logo o que buscam, as chances de encontrar o que realmente precisam.
Carne, ossos, órgãos e pele.
Tenra pele.
Não tão mais tenra.
Fortes ossos.
Não tão mais fortes.
Vigorosos órgãos.
Não tão mais vigorosos.
Carne com tanta vitalidade, energia, aspirações, amores, vontades, coragem.
Então, adubo.




Postado por Ricardo Ceratti.

Nenhum comentário: